J.S. Bach aos 20 anos de idade, Pintura de Johan Ernst Rentsch
Johann Sebastian Bach e os
Rosacruzes
O som tem uma influência física tão importante como a
intelectual, emocional ou espiritual. O corpo reage, comprovadamente, a certas
ressonâncias, timbres e ritmos. A Igreja, na Alta Idade Média, já conhecia esse
poder. Usou-o para provocar reacções definidas nos crentes .
Com a
secularização da música, também a cultura, antes confinada aos conventos,
alastra para o domínio popular. A música dirige-se, então, cada vez mais, aos
conhecedores, em contraste com a música sacra destinada à multidão ávida de
satisfações religiosas, mais do que estéticas e intelectuais.
A
secularização da música, inicia-se com os trovadores e atinge o seu ponto máximo
com as oratórias de Johann Sebastian Bach (Eisenach, 21 de março de 1685 — Leipzig,
28 de julho de 1750) e na música de
George Friedrich Händel(Halle an der
Saale, 23 de Fevereiro de 1685 — Londres,
14 de
Abril de 1759)
Vitalidade e Rigor
A missão espiritual de Johann Sebastian Bach era a de
promover a união do intelecto com a alma. O notável rigor matemático da sua
música apela ao intelecto enquanto que a façanha musical desperta os poderes da
alma contrariando a tendência materialista do ocidente .
Johann Sebastian Bach viveu no
período histórico a que podemos chamar "período rosacruciano", entre a
Renascença e a pseudo-revolução científica do século XVIII. Não ficou alheio à
influência rosacruz e tornou-se, parece evidente, um dos seus membros . Bach
comunicou esta filiação à maneira barroca, em código, segundo a tradição . De
facto, o primeiro voto do iniciado é o do silêncio.
Nenhum verdadeiro
irmão se intitula, publicamente, "Rosacruz" e, por isso, aquele que se proclama
publicamente um deles, já por esse facto o não é.
Os iniciados, e só
eles, conhecem aqueles que, no passado, foram rosacruzes, porque nas suas obras
brilham inconfundíveis sinais, palavras e frases indicadoras dessa ligação com a
Fraternidade, embora estejam ocultas aos profanos .
Vamos então seguir o
fio de Ariadne e percorrer o labiríntico esquema de algumas das suas obras para
encontrar a comunicação que procuramos.
A "Fama Fraternitatis"
A
Fraternidade revelou-se publicamente em 16l4, com a edição de um documento como
título "Fama Fraternitatis (Ecos da Fraternidade) da Mui Louvável Ordem dos
Rosacruzes". A sua autoria é atribuída a J. V. Andreia.
Nesta obra
descreve a vida de Cristão Rosacruz (Christian Rosenkreutz), que funda a
Fraternidade Rosacruz. Explica como Pai Rosacruz foi sepultado, depois de
abandonar o corpo físico e como a sociedade dos Rosacruzes devia permanecer
secreta durante 120 anos.
Quando se deu início à transformação do
templo, os Fraters arrancaram da parede uma placa de latão, revelando uma porta
secreta, com a inscrição Post CXX annos Patero (depois de 120 anos serei aberta)
.
Esta porta dava acesso a um templo com sete lados, em abóbada, com
inscrições de símbolos conhecidos.
No meio do recinto havia um altar
redondo com diversas inscrições. Numa delas lia-se: "ACRC Hoc Universi
Compendium Vivus Mihi Sepulchrum Feci" (Em vida dei para mim, como túmulo, este
resumo do universo).
A Tradição Hermética
Johann Sebastian Bach usou a linguagem
cifrada dos números em toda a sua obra. Segundo a tradição, a origem, a ordem, a
harmonia e a influência dos céus podem ser explicados por meio de certas
operações baseadas no valor numérico das letras.
Cada letra, além do
valor numérico, encerra também uma ideia porque a palavra e o número conjugados,
segundo os cabalistas, são os instrumentos por meio dos quais Deus chamou o
cosmo à existência.
Quer dizer, os números não podem ser entendidos
apenas como meios úteis para ordenar logicamente o universo, mas também como
símbolos do Absoluto.
Assim, de acordo com a regra talmúdica, cada letra
tem um certo valor numérico. Com base nesta equivalência Johann Sebastian Bach escreveu a sua
obra segundo um esquema lógico que não pode ser nem jogo intelectual nem simples
coincidência .
A Obra
Autor de vastíssima obra, incluindo canções,
danças, missas, etc.,Johann Sebastian Bach recorre à ambivalência do véu, que é ao mesmo tempo
transparente e opaca, para revelar a sua filiação na Fraternidade Rosacruz.
O primeiro véu foi tecido determinando o valor numérico do seu próprio
nome: Bach (A=1, B=2, etc.) Como era hábito na altura, o "J" tinha o mesmo valor
que o "I" e o "U" o mesmo que o "V". O resultado é 14. Vai usar este número com
frequência.
A Oratória de Natal tem 14 coroais e 14 árias. Na Paixão
Segundo S. Mateus, Cristo "canta" em 14 recitativos, etc.
No segundo véu
faz a ligação entre o seu nome e o de Christian Rosenkreutz (Cristão Rosacruz),
usando, também, os valores numéricos equivalente. 97 é o valor da palavra
Christian (Cristão) e 155 corresponde a Rosencreutz (Rosacruz), somando
252.
Usou este número simbólico num certo número de obras para
instrumentos de teclas. O autor chamou "Invenções" a um grupo dessas obras. São
15 peças em 2 partes ou "vozes". A um segundo grupo chamou-lhes "Sinfonias". São
mais 15 peças, a "3 partes".
As sinfonias estão escritas em vários tons.
As mais importantes começam com C (dó) maior (a 1ª sinfonia) , C (dó) menor (a
2ª sinfonia); D (ré) maior (a terceira), etc.
Neste grupo há partituras
escritas com os mesmos tons e pela ordem com que o autor escreveria o seu nome:
BACH, isto é,
B A C H
Si la do si (bemol)
Contanto o número de
todos os compassos destas quatro partituras observamos que: a Sinfonia nº 14 em
B sustenido tem 24 compassos; a n.º 13 em A bemol tem 64; a n.º 2 em C bemol tem
32 e a n.º 15 em H bemol tem 38.
A soma dos compassos destas quatro
partituras é 158, que é o valor numérico do seu nome: Johan Sebastian
Bach.
No grupo das "Invenções" também existem peças com os mesmos
tons. O número dos seus compassos é o seguinte: 20, 25, 27, 22, somando 94. A
adição de 158 + 94 dá como resultado 252, que é o valor numérico do nome de
Cristão Rosacruz, em língua alemã!
A Antiguidade Clássica reconhecia a
existência de uma realidade superior, habitada por energias invisíveis. Partindo
do homem, que ela colocava naturalmente no centro, o universo era dividido num
ternário de manifestação.
Bach segue uma evolução idêntica. Parte do
auto-conhecimento, da sua profundeza, da interioridade, para a transcendência.
Tece, finalmente, o terceiro véu, baseando a estrutura de algumas obras no valor
numérico da frase-chave encontrada no templo onde estava o túmulo de Cristão
Rosacruz.
O valor numérico das palavras desta frase é: ACRC, 24; Hoc, 25;
Universi, 111; Compendium, 107; Vivus, 87; Mihi, 38; Sepulchrum, 129; Feci, 23.
Soma: 544, que é a soma do total dos compassos das 15 sinfonias.
Na
Oratória de Natal e no Magnificat, entre outras obras, Bach associa o número 544
a outros que, vamos ver, dizem respeito a uma data.
Baseando-se no ano do
nascimento de Cristão Rosacruz, em 1378, segundo a Fama Fraternitatis, que deu
origem ao "calendário rosacruz", Bach revela, muitos anos antes, o dia, mês e
ano da sua própria morte. Encontramos o dia e o mês na obra Magnificat,
envolvidos pelo valor numérico das palavras acima referidas.
Nesta peça,
para coro, solistas e orquestra, o coro (Fecit Potencian) tem particular
importância. Ocupa 28 compassos em tempo rápido (o texto começa por Fecit
Potencian...) e mais 7 em tempo lento (o texto começa por Mentecordis sui...). A
soma de todos os compassos da peça é 579, assim dispostos:
302
28 + 7
242
544 + 28 + 7 = 579
Temos, assim, o dia (28) e
o mês: Julho (7).
Se analisarmos agora as 3 últimas trio-sonatas para
órgão, vemos que:
A sonata nº 4, tem 207 compassos;
A sonata nº 5, tem
372 compassos, e
A sonata nº 6 tem 337 compassos.
A soma dos compassos
da quarta e da sexta é 544! A sonata número 5 tem 372. É a sonata-chave para
determinar o ano, porque tinha inicialmente 155 compassos , com valor numérico
igual ao da palavra Rosacruz (Rosenkreutz).
Bach viria a falecer,
portanto, no ano 372 do calendário rosacruciano, que se inicia no ano do
nascimento de Christian Rosenkreutz: 1765 do calendário gregoriano, ou sejam
1378+372.
Perante tão interessante revelação, resta-nos agradecer, como ª
Plussihem ao conhecido compositor Félix Mendelsohn, por ter "redescoberto" Bach
em 1829, 79 anos depois do falecimento do genial arquitecto da música, já então
quase esquecido, e "encontrar a sepultura do Irmão J. S. Bach onde bem poderiam
estar gravadas as palavras "Post LXXIX Anno
Patebo".
Discografia
Oratória de Natal (BWV 249; Paixão
Segundo S. Mateus (BWV 244); Invenções, a duas partes (BWV 772-86); Invenções
(Sinfonias) a três partes (BWV 787-801); Magnificat (BWV 243a).
- Ariel, Revista Rosacruz da Fraternidade Rosacruz de Portugal, nº 336, de 1995
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