Michael Maier
1568-1622
Conceituado médico e alquimista alemão, conselheiro de Rudolf II , Imperador e Rei da Hungria e Rei da Bohemia
Um Tratado Musical de Alquimia
Atalanta Fugiens
Em 1618 aparecia em Oppenheim (Renânia) a obra da qual
podemos admirar, ainda hoje, o soberbo frontispício: "Atalanta Fugiens", de
Miguel Majer.
O autor, ou melhor, os autores, uma vez que o editor João
Teodoro de Bry é, provavelmente, também, o gravador, nele se declaram poetas,
gravadores e músicos. Miguel Majer, nascido em 1568, em Rendsburg (Holstein) e
falecido por volta de 1631, era formado em medicina.
Entrou para o
serviço do Imperador Rodolfo II, em Praga, inicialmente como físico ou médico.
Passou depois para secretário particular, par ser, enfim, elevado à dignidade de
conde do conselho Imperial (conde palatino). Era alquimista e
rosacruciano.
João Teodoro de Bry, nascido em Liége, em 1561, era filho
do gravador e editor com o mesmo nome. Retomou, quando da morte do pai, as
actividades profissionais deste. Pertencia à religião reformada.
A obra
de Majer e de Bry é um autêntico tratado de ocultismo em cinquenta "emblemas
esotéricos". Cada "emblema" comporta três elementos: um "epigrama", breve poema
alegórico em latim, acompanhado da sua tradução em alemão; uma gravura simbólica
e uma "fuga" a três vozes, escrita sobre os dois primeiros versos do
epigrama.
Um título indica a significação geral de cada emblema. Cada um
deles transpõe um mito antigo, conferindo-lhe uma ressonância alquímica.
O ponto de partida, ilustrado no frontispício, tem por base a lenda da
deusa Atalanta (também chamada Ártemis e mesmo Diana, pelos Gregos e Romanos).
Podemos seguir a sua aventura no enquadramento do título: à esquerda, no Jardim
das Hespérides (as três ninfas no alto da gravura, são Aegle, Aeretusa e
Hespertusa), guardado pelo dragão de sete cabeças (igualmente em cima), Hércules
apossa-se dos frutos de ouro.
Três deles caem nas mãos de Afrodite
(Vénus) que, mortificada pela feroz castidade de Atalanta, os entrega ao belo
Hipomanes com a missão de a seduzir.
Hipomenes, conhecendo o estratagema
pelo qual Atalanta se livrava dos pretendentes, resolver enganá-la. Atalanta
impunha-lhes uma prova de corrida. Se o pretendente a vencesse, teria direito a
desposá-la. Caso contrário, teria a cabeça decepada - o que sempre acontecia,
uma vez que Atalanta era mais leve e mais veloz do que qualquer
mortal.
Hipomenes colocou-se entre os concorrentes. No momento da prova
atirou os três frutos de ouro para a frente de Atalanta. Esta, curiosa, ou um
tanto cúpida, abaixou-se para os examinar e recolher e, com isto, perdeu algumas
passadas, o que bastou para que Hipomenes a vencesse (em baixo, à esquerda da
gravura).
A união consumou-se num templo consagrado a Zeus ou a Deméter
(em baixo, à direita). Irritado por semelhante acto de profanação, o deus (ou a
deusa), transformou-os respectivamente em leão e leoa (em baixo, à
direita).
As gravuras e o sentido geral dos "emblemas" foram
admiravelmente analisados e explicados por J. Van Lennep. As fugas musicais
permanecem mais misteriosas e demandariam um longo e minucioso estudo. Todavia,
um exame sumário talvez não seja desprovido de interesse. Vejamos a fuga número
1, aqui transcrita em notação moderna.
Não se trata de uma "fuga" como a
entendem os tratados clássicos em uso nos conservatórios. Apenas as duas vozes
superiores são tratadas em cânon, mas à quarta inferior. A voz mais grave é
tratada em cantus firmus ou teneure. A voz mais aguda, no sentido em que a
entendiam os teóricos do século XVII, isto é, a "fugida". Representa,
normalmente, Atalanta fugitiva, como o indica o compositor: Atalanta seu vox
fugiens.
A Segunda voz, que e segue em cânon rigoroso na Quarta grave,
personaliza Hipomenes. O cantus firmus, enfim, todo em valores longos,
representa os frutos atirados a Atalanta.
Atalanta (primeira voz)
representa o Mercúrio volátil (ou a Lua); Hipomenes (Segunda voz) o enxofre
activo ou o sol alquímico. A terceira voz representa os frutos de ouro, frutos
da imortalidade, mas também o símbolo do conhecimento.
Essas curtas peças
musicais, cuja realização necessita, por vezes, de uma douta exegese
contrapontística, não são, longe disso, obras-primas. Neles descobrem-se (cf. o
exemplo acima) imperícias, na verdade erros que um estudante de conservatório,
mesmo nos nossos dias, renegaria com horror.
Pode-se questionar a
respeito da utilização que dela pretendia fazer os seus autores. O texto
preliminar teria uma função equivalente à dos corais de Lutero: "serem lidas,
meditadas, compreendidas, julgadas, cantadas e ouvidas".
Isso
constituiria um método para gravar na memória do adepto o primeiro dístico
essencial de cada poema que comenta a gravura correspondente.
J. Van
Lennep lembra-nos que o Imperador Rodolfo II (em Praga), bem como o duque
Vicente de Gonzaga (em Mântua), ambos alquimistas experientes, eram, para os
músicos, mecenas esclarecidos e generosos. Ambos possuíam uma prestigiosa capela
de música. O primeiro protegeu - entre outros - o compositor flamengo Filipe de
Monte (1521-1603), e o segundo financiou o Orfeu, de Cláudio Monteverdi, cujo
simbolismo foi, por certo, amplamente inspirado pelo comanditário.
J. Van
Lennep adianta ainda que a música servia para dissipar a melancolia saturnina,
que se apoderava dos alquimistas durante as longas noites de vigília diante do
forno. Imagina-as então enganando a espera, cantando as "fugas" da Atalanta
Fugiens. Supõe ainda que tais "fugas" também foram cantadas pelos membros da
Fraternidade Rosacruz, a que Majer pertencia e que outorgava à música extrema
importância
- Fonte: Revista "Rosacruz", Fraternidade Rosacruz
de Portugal
Revista ROSACRUZ
É o órgão oficial da Fraternidade Rosacruz de Portugal. Através das suas secções (Editorial, Filosofia, Astrologia, Saúde e Nutrição, Educação Infantil, Estudos Bíblicos, etc.) atende aos anseios intelectuais e ao sentimento religioso e desperta o entendimento dos mais profundos mistérios da origem e evolução do Homem.
Atalanta Fugiens (edição bilíngüe, com imagens)
Atalanta Fugiens by Michael Maier (English translation in pdf)
Kunst der Fuge: Michael Maier's Atalanta Fugiens (MIDI files)
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