Dizer a Verdade
por
Jamis Lopez
Maat, a Deusa-Verdade, esposa de Toth
Sabemos que mentir não é correcto, mas já nos questionámos se é correcto dizer uma mentira «piedosa»? A resposta é não. Chamamos «piedosas» às mentiras quando elas parecem inofensivas; contudo, em termos espirituais falamos do certo e do errado baseando-nos num princípio de conteúdo, como as coisas na verdade são, e não pela sua aparência.
Mentir é Morrer Espiritualmente
Desde cedo aprendemos nos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que uma mentira no Mundo dos Desejos «é tanto um crime como um suicídio», pois não só destrói o que falsamente representa, como também se destrói a si mesma no processo.
Ao mentirmos, fazemo-lo com um objectivo: a pessoa a quem mentimos, e o assunto sobre o qual mentimos. Ao mentir estamos a desrespeitar alguém e estamos a provar ser egocêntricos, protegendo os nossos próprios interesses, mesmo cobardemente. Seremos cobardes a este ponto? Pode ser que sim. Trouxemos connosco do passado, e ainda trazemos, estas tendência inatas de auto-interesse e auto-protecção. Mas temos necessidade de continuar a fazê-lo? Acho que não. Se a nossa jornada espiritual vai começar, ela tem de começar algures. Dizer a verdade é um ponto de partida bastante prático.
Não amamos o ser humano ou a Deus quando mentimos. Se vamos amar o próximo como a nós mesmos, então comecemos por fornecer respostas verdadeiras, que nós próprios acharíamos aceitáveis — nem mais nem menos, a quem quer que seja. Dizer a verdade tanto aos que amamos como aos que não amamos é uma maneira de realizar as máximas «Faz aos outros como gostarias que te fizessem a ti» e «Ama o teu inimigo», tal como é ensinado no Sermão na Montanha (Mateus, caps. 5 a 7).
O apóstolo Tiago escreveu: «Aquele que não peca no falar é homem perfeito, capaz de pôr freio ao corpo todo»(Tiago 3, 2).
Em Princípios Ocultos de Saúde e Cura, Max Heindel escreveu: «As verdades eternas só são percepcionadas quando entramos nos mundos mais elevados e particularmente na Região do Pensamento Concreto; por isso temos de cometer erros e mais erros, apesar dos nossos esforços mais sérios, para saber e dizer sempre a verdade» (Capítulo V: «Causas específicas da doença»).
Precisamos de pôr em prática os nossos princípios Cristãos, começando agora mesmo a «dizer a verdade».
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Diagrama . Os sete períodos . Max Heindel, "Conceito Rosacruz do Cosmos"
O que acontecerá se começarmos a dizer apenas a verdade? Poderemos imaginar? Um escritor tentou imaginá-lo e escreveu uma história, de que foi feito um filme chamado O Mentiroso Compulsivo (Liar, liar, 1997) com Jim Carrey. Durante 24 horas um mentiroso incorrigível tinha de dizer a verdade. Para ele era muito embaraçoso e muito difícil.
No vindouro período de Júpiter a verdade e a mentira estarão patentes. O que quer que digamos, as pessoas verão o que queremos dizer utilizando a sua «visão mental». Será muito desconfortável para muitos de nós! Mesmo actualmente, muitas pessoas sensitivas sabem quando estamos a mentir pela nossa maneira, pelo tom de voz, cambiantes na expressão, ou simplesmente pela inconsistência do nosso testemunho.
São hoje em dia usadas técnicas científicas para determinar se estamos ou não a falar verdade. Mesmo a direcção do nosso olhar revela se estamos a tentar recordar alguma coisa ou se fazemos um esforço para arranjar uma invenção improvisada.
Antes de começarmos a “dizer a verdade”, precisamos de ter cautela para não nos excedermos. Se não pudermos ser objectivos, não podemos dizer a verdade. Um pensamento forma do acontecimento já foi gravado, independentemente da nossa percepção.
Opiniões subjectivas e negativas não são «a verdade», por muito que acreditemos nelas ou por muito que as repitamos. Uma opinião negativa é um dado a que se juntou um pensamento negativo e, na maior parte dos casos, o resultado é um julgamento precipitado. As mentiras são perigosas, sobretudo as «mentiras nocivas e maliciosas, que podem acabar com alguma coisa boa, se forem suficientemente fortes e repetidasvezes bastantes»(Conceito Rosacruz do Cosmos, Cap. I: «Os Mundos visíveis e invisíveis»).
"Sermon on the Mount"
Fresco, Fra Angelico
(1387-1455),
Museo di San Marco, Florence
Podemos tentar desculpar o mentiroso, dizendo «Ele só quer chamar atenção.» Como podemos sabê-lo? Dizemo-lo porque achamos mais fácil e estamos irritados. A verdade nem sempre é a primeira prioridade; insistir em ser verdadeiro pode ser inconveniente. Requer a nossa atenção quando podemos nem estar interessados. Os nossos julgamentos súbitos, oriundos de contrariedades e impaciência não estão de acordo com as coisas como realmente são. Uma vez proferidas, as mesmas conclusões, muitas vezes precipitadas, são repetidas mais fácil e frequentemente.
Até que ponto nos importamos com o impacto que podemos ter relativamente à pessoa acerca da qual falamos? «Bem, isto é verdade, não é?» respondemos. Mas será? Provavelmente não, mas será que nos importamos? Temos de colocar a nossa persona de lado e perguntar: qual é a verdade, neste caso concreto?
Os
aspirantes espirituais aprendem a observar correctamente, vendo-se «na terceira
pessoa». A verdade permite-nos auxiliar os outros, e não magoá-los, se soubermos
exprimir-nos correctamente. A análise objectiva, por vezes, indicar-nos-á o
erro, mas outras vezes não. A objectividade procura soluções; culpar os outros
parece ser um permanente mecanismo de autodefesa.
Dizer «a verdade» não significa usar as nossas
competências analíticas para encontrar falhas nos outros e denunciá-las, muitas
vezes com pouca generosidade de espírito.
Como estudantes Rosacrucianos esforçamo-nos por «falar, agir e ver apenas
o que é bom nos nossos relacionamentos diários com os outros.»
Somos instruídos para ver o lado positivo em qualquer
situação, pois ao fazê-lo o que é positivo fortifica-se. A verdade sobre uma situação ou pessoa,
quando identificada e proferida, sairá reforçada. Um professor de Matemática reformado, um ateu
que pouco beneficiava do conhecimento das leis espirituais, verificou que tudo
aquilo que nos torna gratos, promove crescimento.
Tal como é mencionado em O Corpo de Desejos, o conhecedor de
ciência oculta baseia as suas acções na lei cósmica: «Ao procurar o bem no mal,
transmutará, a seu tempo, o mal no bem.
Se a forma usada para minimizar o mal é fraca, não terá grande efeito e
será destruída pela forma má, mas se for forte e repetida frequentemente, terá
como efeito a desintegração do mal e a sua substituição pelo bem. Esse efeito, entenda-se bem, nunca será
conseguido pela mentira, ou pela negação do mal, mas pela procura do bem» (Parte
V: «Espiritualização do Corpo de Desejos do Homem» — Capítulo III: «Preparação
para a vida superior»)
Dizer a verdade é muitas vezes uma experiência de
humildade; a tentação da mentira é frequentemente utilizada para com alguém que
sentimos como nosso adversário. Por essa
razão, quando dizemos a verdade mostramos respeito pela pessoa a quem teríamos a
tentação de negá-la, sobretudo se essa a verdade nos apontar algum erro.
Dizer a verdade nem sempre é fácil e pode ser prejudicial
para a nossa reputação, até para a nossa vida, e pode exigir uma fé que
simplesmente não possuímos. Que fazer, então? Não dizermos a verdade? Todavia o mínimo que podemos fazer é não
mentir a nós mesmos num esforço para justificar uma mentira, e saber a diferença
entre um pretexto e uma justificação.
Corrie ten Boom escreveu no seu livro O Esconderijo (The Hiding Place) que, durante a
ocupação Nazi, na Holanda, ela disse a verdade aos soldados que procuravam
Judeus, apontando para a entrada do seu verdadeiro esconderijo. Sabe-se lá porquê, mas por um milagre de fé,
os soldados não procuraram onde ela indicou.
Agora que começámos a prestar atenção ao que dizemos,
ficaremos desconcertados ao verificar a frequência com que distorcemos os
factos, ou com que mentimos.
Reconhecendo que alguns leitores da revista Rays From the Rose Cross[1] podem ter ultrapassado esta fase de incertezas, para os
restantes de nós perguntemos: Quantas vezes dizemos ou ouvimos pessoas
aconselharem «Diz isto» ou «Diz aquilo», ou «Não precisas de dizer» ou «Ninguém
saberá», ou «Quem é que vai saber»?
O
primeiro passo é eliminar esses hábitos e práticas que teríamos dificuldade em
confessar. Não podemos dizer que não
fizemos o que fizemos, e não podemos dizer que fizemos o que não fizemos,
etc. Se dissermos que fizemos e não
fizemos, temos de corrigir o nosso erro, e se não fizemos e dissermos que
fizemos, mais uma vez temos de o corrigir.
Cristo disse que é melhor ser quente ou frio do que
tépido porque Ele sabia que se erramos seremos apanhados e sofreremos por causa
disso — e assim aprenderemos. Se
mentirmos, perdemos uma vantagem importante como aspirantes espirituais.
Então como haveremos de responder a perguntas
difíceis? Que deveremos dizer quando
alguém nos pede a opinião e o que pensamos não é o que o interlocutor quer
ouvir? Podíamos dizer-lhe o que ele quer
ouvir; no entanto, dizer algo que contraste com os nossos pensamentos mais
secretos significa mentir. Pensamentos
são coisas. A questão é crucial. Não minimizemos as consequências de ser
falso: «Uma mentira tanto é crime como suicídio.»
Para iniciarmos este processo de sermos verdadeiros,
temos de cessar de ter pensamentos exageradamente críticos; é uma maneira de
ficarmos mais leves. Aprendemos a
abordar os outros com gentileza — como gostaríamos de ser abordados — colocando
as coisas em perspectiva.
Existem maneiras de responder às pessoas com tacto, ou
com humor, mesmo perante os assuntos mais delicados. A ignorância é o único pecado, dizia Max
Heindel. Ao arranjarmos tempo para entender o que vemos, são-nos reveladas coisas que, de outro modo,
nunca saberíamos. Então, ao possuirmos
uma perspectiva mais esclarecida, podemos aprender a dar respostas mais
afáveis.
Se
formos confrontados com uma questão séria, à qual preferíamos não responder,
podemos tentar ser «firmes mas justos».
As pessoas respeitam o que é «firme mas justo»; não queremos mentir e não
«precisamos» de mentir quando somos «firmes mas justos». Ser firme implica ouvir
as objecções e medir as respectivas respostas, adaptando-as, se necessário.
Nos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, ensinaram-nos a
tratar o próximo em termos do seu Eu Superior, aquela parte de Deus dentro de
cada um de nós. Ao fazê-lo estamos a
dirigir-nos a Deus como Ele se manifesta em nós. Mentiríamos a Deus?
Encontramos um conceito paralelo nas obras de Elman
Bacher sobre Astrologia, onde ele diz que «os planetas são pessoas». As forças cósmicas representadas no nosso
carta astrológica, que está em nós, manifesta-se em nós através de pessoas. Mentimos a nós próprios? Infelizmente sim, e não poucas vezes. Dizemos que não nos interessa, não sabemos,
não conseguimos; e no entanto, importamo-nos, sabemos e, isso sim,
conseguimos.
É
injusto fazer previsões negativas sobre o que as pessoas poderiam dizer ou fazer
para justificar mentir-lhes; as pessoas não esperam que lhes mintam, que as
tratem com desrespeito, e por isso reagem negativamente.
Esta abordagem não é garantia imediata de afeição, e
devemos ter cuidado para não nos «arrependermos» de ter dito a verdade. A primeira reacção das pessoas raramente é a
sua reacção final, mas aqui a questão não é como as pessoas reagem a nós; o
importante é que façamos a nossa parte e, se alguém deseja contribuir, que seja
bem vindo.
Se
mentirmos com medo do que alguém possa dizer ou fazer, tanto maior a razão para
dizer a verdade; se nos deixamos levar pela cilada do medo, isso far-nos-á
sentir inferiores. Dar respostas
exactas, que servem o interesse de todas as partes envolvidas, serve a Verdade e
serve a Deus.
A única coisa que temos em comum com os outros é Deus, e «Deus é a Verdade». Se sacrificarmos Deus nos nossos relacionamentos, perderemos a dimensão dinâmica dessa relação, a dimensão em que nos damos, em que crescemos e encorajamos os outros a fazer o mesmo. Ao sacrificarmos o nosso pequeno ego, a nossa «face», em prol da Verdade, estamos a dar um valor real ao próximo; e estamos a viver segundo o nosso lema — o do «serviço amoroso e desinteressado pelos outros.»
A Fenix e a Pedra Filosofal, J.A.Knapp
Dizer a verdade pode ser difícil quando não fazemos disso
um princípio orientador da nossa vida, mas, como aspirantes espirituais, existe
uma vantagem acrescida para dizermos a verdade.
Max Heindel compara os estudantes, a este nível da sua
carreira evolucionária, com «diamantes em estado bruto». É através da dor de viver que somos polidos,
que somos clarificados, e podemos receber e transmitir cada vez mais Luz. Dizer a verdade em relação a alguma coisa que
nos envergonha, pode muito bem causar-nos a dor da humilhação. Mas não nos devíamos conter nesta
purgação. Ela é parte da nossa
experiência quando fazemos a oferenda da nossa natureza inferior sobre o Altar
de Bronze nos fogos purificadores duma retrospecção nítida.
Se
nos protegermos do devido reconhecimento, evadindo-nos, o que estamos a
proteger? O nosso eu inferior. Quem
estamos a magoar? Todos, incluindo o nosso Eu interior ou superior, pois
interpomos o tecido das mentiras entre o mentiroso, o nosso eu pessoal, e a
Verdade viva.
Mas temos medo. O
que nos irá acontecer? Esse é o ponto em que diferimos de Deus. Pedimos que a Sua vontade seja feita, e não a
nossa. Se, ao mesmo tempo que recusamos
mentir, abrimos a possibilidade de censura, libertámo-nos da prisão do
isolamento, onde seríamos confinados pelo pecado.
Pouco ou nada do que é negativo se aderirá a nós, a menos
que tenhamos contribuído para tal; mas isso não impede que nos arrependamos, e
que oremos ao Pai para que mostre a Sua benevolência para connosco. Essa
benevolência pode vir de uma direcção inesperada, até da parte do nosso
acusador.
Enquanto as acções passadas são uma «causa» para as
condições presentes, também as acções presentes determinam o nosso futuro,
incluindo orações de arrependimento que podem ajudar a neutralizar o efeito de
acções passadas injustas. Por boas
razões nos ensinaram a arrepender-nos e a pedir perdão. O primeiro passo é confessar as nossas
iniquidades. Simplesmente dizer a verdade é a confissão mais básica e pode ser
eficaz na dissipação de complexos neuróticos de culpa e sentimentos de
inferioridade.
É
a sensação ardente da humilhação, seguida do remorso sincero, que apaga a
memória dos nossos erros do átomo-semente físico alojado no nosso coração.
Então, por que nos escondemos dessa experiência?
Se
dizer a verdade nos leva frente a frente com o que fomos e fizemos, e com o que
achamos censurável, então por que não dizer a verdade para que possamos repudiar
e dissolver esse estado?
Não tenhamos medo: confiar nos outros em tudo o que dizemos, por mais incómodo ou doloroso que seja, trar-nos-á recompensas que nem podemos imaginar.
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Diagrama
A via mistica ( a alma diamantina) e a via ocultista ( o rubi da alma)
Max Heindel, "Iniciação Antiga e Moderna"
[1] Este artigo foi publicado na revista Rays From the Rose Cross, número de Janeiro-fevereiro de 2004, editada pela Rosicrucian Fellowship, Oceanside, CA, USA.
A autora, Jamiz Lopez, em sua última existência terrestre foi membro probacionista da Rosicrucian Fellowship, editora do site Mystic Christianity, e moderadora do Forum Rosenet no Yahoo. Este forum está relacionado à The Rosicrucian Fellowship, porém não é um forum formalmente associado com esta sede, nem está restrito à seus membros.
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