Irene Gomez Ruggiero
Sra. Irene Gómez Ruggiero
(+ 15 de setembro de 1991)
Natural do Uruguai, imigrou para o Brasil em 1940, a conselho da Sra. Augusta Foss-Heindel, onde fundou a Fraternidade Rosacruz Max Heindel. Pensadora e Instrutora rosacruz, por excelencia, pode ser considerada a maior divulgadora do idealismo rosacruz de inspiração heindeliana no Brasil. Suas aulas, dentro e fora da Fraternidade Rosacruz, formaram e inspiraram várias gerações no estudo e vivência da Filosofia Rosacruz. Seus alunos, de diversas gerações, profissões e formações acadêmicas, vinham de todos os bairros da cidade, e a expressão original dessas aulas permanece como uma boa semente na produção intelectual, artística e anímica de todos os que tiveram o privilégio de assisti-las. Seu ministério ultrapassou fronteiras geográficas e sociais. Ministrou milhares de conferências por diversos estados do Brasil e também em diversos países latino-americanos. Manteve durante várias décadas um programa radiofônico na antiga rádio Copacabana, chamado A VOZ ROSACRUZ. Prestou assistência espiritual a presidiários em institutos penais do Rio de Janeiro, procurando estimular os valores espirituais entre aqueles que a sociedade condena, mas não salva. Promoveu diversos conclaves rosacruzes, promovendo o vegetarianismo e valores aquarianos de resolução de conflitos. Foi redatora e editora, durante várias décadas, do CORREIO ROSACRUZ, Jornal Cristão-Espiritualista. Oficiou serviços esotéricos e palestras para adultos e jovens na Escola que estabeleceu, até ser chamada para um trabalho maior nos mundos invisíveis. Todos aqueles que tiveram o privilégio de compartilhar sua presença e assistir suas memoraveis aulas são testemunhas de seu profundo conhecimento espiritual, carisma, eloqüência, inquestionável clarividência, raro misticismo e de uma vida consagrada absolutamente ao idealismo rosacruz.
O Espírito e a Vontade
Diagrama atualizado do Conceito Rosacruz do Cosmos- Ilustração de María Augusta e José María Subirachs, de Asunción, Paraguay.
Que a Paz seja convosco e a
Paz seja entre todos nós! Demos graças a DEUS pelo poder da vida, de compreender
e servir!
Amigos todos, hoje a
palestra será sobre o Espírito e a vontade.
Todos cremos que o Espírito
em si pode exercer sua vontade movimentando, decidindo e transladando toda a
cadeia de ação de nosso ser. E, aparentemente, se não há um estudo profundo, não
é possível definir que assim não o é. O Espírito é uno e potente em si, tendo,
para desenvolver ou pôr em ação, germes preciosos que lhe dariam poderes imensos
como o dão a todo aquele que, num esforço de equilíbrio, põem-nos em
ação.
Vemos, então, o Espírito
que está dentro de uma série de veículos, trabalhando, atuando, dirigindo,
recebendo e impulsionando através das matérias que o envolvem, para assim
extrair e manifestar estas mesmas potências latentes em seu
interior.
Todos falamos da vontade e
todos a compreendemos como uma ação de perseverança. Não todas as vezes
definimos o que é a vontade, porque a vontade é um poder de aquisição na escola
da experiência que o Espírito realiza através de seu veículo – o corpo
físico.
Podemos comprovar que nós
projetamos milhares de idéias e sugerimos um outro tanto de pensamentos. Muitas
vezes, os levamos à realização dentro do poder da convicção, mas não assim no
poder da execução, na prática. Diante desse fenômeno, a maior parte retrocede ou
fracassa. Parece, então, que lhes faltou algo.
A vontade, em princípio,
existiu, pois que, culminando, houve o princípio de ação o qual, até aqui, foi
assistido pela vontade. Mas não houve vontade para perseverar e chegar ao
triunfo, à plenitude da idéia que devia ser executada.
Isto se passa em todas as
escalas sociais e em todos os Espíritos que habitam a Terra. Alguns, em menor ou
em maior grau, todos temos que lamentar os fracassos que não conseguimos que se
convertessem em realidade feliz para a qual nós os idealizamos.
Se bem que exista uma série
de fatores para agir, os quais examinarei aqui, junto de todos vós, o fator
principal de nossa ação: a vontade.
O espírito em si, ou sua
vontade de espírito, está dirigido para a execução nos mundos supra-físicos,
porque é ali onde ele se manifesta amplamente, e é ali onde ele tem a mais ampla
liberdade de poder pensar e projetar. Assim, vemos como surgem em nós às vezes
idéias maravilhosas, idéias salvadoras e que muitas vezes morrem dentro do
pensamento e da imaginação. Por quê? Porque ao Espírito virginal puro, mas
inconsciente da prática do mundo físico, DEUS deu-lhe, como patrimônio, tudo
latente, para que cada um pudesse ser uma autoridade responsável absoluta de
tudo o que praticasse, quer fosse êxito ou fracasso. Consiste nisso que as
potências do Espírito precisam desenvolver os meios de ação no mundo da forma, o
mundo físico. E são vários os meios de ação que conduzem à prática ou à
experiência da execução na vida.
Amigos que me ouvis! Tão
sublime e verdadeiro é que “DEUS nos criou à Sua imagem e semelhança” e nos
deixou toda esta maravilha de forças para que nós a dirijamos e pratiquemos,
para delas extrair os valores próprios e imortais, para a formação do patrimônio
de um espírito independente na própria vida de DEUS. Sendo assim, a vontade é um
trabalho resultado de duas funções: uma é que o Espírito Divino, parte do Pai
Eterno em nós, executa, através do corpo físico, a ação de movimentar e praticar
em suas forças, nas quais há de conquistar um patrimônio através das
experiências de perseverança, extraindo como tal a formação de uma
vontade.
A vontade não tem um
princípio divino, senão que é uma aquisição do próprio Espírito no mundo da
forma e que é extraída do domínio de todos os sentidos inferiores, de todas as
sensações grosseiras que impulsionam os instintos do corpo
físico.
Assim, chega o Espírito
Divino em um campo de batalha para dominá-los. Como? Desenvolvendo uma vontade,
ou seja, executando seu poder divino nessas matérias de aquisição, imprimindo em
nosso cérebro, em nossa inteligência e no nosso coração uma perseverança que é
impulsionada pelas forças que animam as forças nítidas da
vontade.
A vontade é extraída do
total do corpo físico. A vontade corre através de nossas mãos para poder pô-las
em ação; a vontade corre através de nosso cérebro para levar adiante as
idéias.
Quando um indivíduo, quando
um Espírito conduz todas as suas ações por uma reta vontade, veremos então que
ele executa a perseverança em linhas corretas. Mas, como a vontade não tem
origem divina, ocorre aqui o fenômeno de que pode esta vontade induzi-lo a
seguir o caminho do instinto ou seguir o das forças da inteligência unidas ao
Espírito de Vida, ou o coração, para então obter uma vontade construtiva, cheia
de todos os mais puros e elevados propósitos.
Vemos uma vontade não
atropeladora, uma vontade não subjugadora; uma vontade cheia de sentimentos, uma
perseverança conduzindo tudo em direção à perfeição. É o resultado do Espírito
Divino que conseguiu pôr em ação as potências do Pai Eterno em nós e extrair
esse resultado que vemos de uma perfeita vontade.
Quando vos disse que a
vontade é uma aquisição do Espírito, poderia assegurar-lhes que essa vontade
tem, para executá-la, dois meios como forças de ação , que já são ações,
poderíamos dizer, em terceiro grau, das próprias forças que dirigem o Espírito
na aquisição da vontade. Vemos, então, o Espírito agindo e extraindo de si o
resultado de uma nova perseverança.
Aqui encontramos duas
naturezas de seres em ação: aqueles seres que têm uma vontade imperante, de
mando, sem que intervenha em absoluto o coração, materialistas e frios, que
geralmente estão agindo porque a mente egoísta e separatista os impulsiona, e
os que são piedosos e cristãos, amorosos e altruístas, impulsionados pelo
coração. Ambos desenvolveram uma vontade e, se puséssemos de frente as suas
vontades, veríamos que são diametralmente opostas. Por quê? Porque ambas as
vontades tomam como mola a razão e vão racionalizar a execução de sua vontade.
Às vezes, vemos criaturas honradas nas quais parece-nos um paradoxo compreender
os desígnios de sua vontade. Por quê? Porque nelas faltou a pureza do coração, e
as forças egoístas da mente tomaram campo sobre sua vontade.
Que é o que nos convém como
Espíritos? Desenvolver sempre a vontade que não afeta nenhuma criatura, que não
subjuga nenhuma criatura, uma vontade que vai mostrando um campo de execução
cheio de linhas tão puras, tão altruístas e filantrópicas, que seja uma vontade
tão doce, tão pura e tão permanente como a vontade celestial, que destina e
dirige todos os desígnios do mundo e da criatura humana através de uma divina
piedade, cheia de Amor, impulsionando tudo e a todos por igual.
Vemos ali, através da luz
das estrelas, através do movimento do Sol, através da fecundação da terra, uma
perfeita e divina vontade trabalhando, executando, sem que as infinitas vontades
do homem a possam atingir. Há uma vontade, uma vontade soberba, mas cheia de
Amor, cheia de justiça! Uma vontade que cumpre tudo nos desígnios mais amplos da
Luz. Uma vontade que é então o triunfo do Pai, mantendo o Macrocosmos nessa
perfeita harmonia e será, meus amigos, a perfeita vontade do homem, levando
adiante os desígnios que DEUS deixou sobre o plano da elevação da humanidade,
para que atinjamos uma vontade onde já não seja sob os efeitos da razão, senão
uma vontade ditada pelo coração, onde o Cristo Interno estará no timão e tudo
será perfeito, haverá Amor, Paz e tranqüilidade e cessará todo sofrimento, toda
morte e toda dor.
Que a Paz seja convosco e a Paz seja entre todos nós!
- Palestra radiofônica feita ao microfone da Rádio Copacabana, no Programa "A Voz Rosacruz", 30/05/61
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