A RELAÇÃO DO HOMEM COM DEUS

Natural do Uruguai, imigrou para o Brasil em 1940, a conselho da Sra. Augusta Foss-Heindel, onde fundou a Fraternidade Rosacruz Max Heindel. Pensadora e Instrutora rosacruz, por excelencia, pode ser considerada a maior divulgadora do idealismo rosacruz de inspiração heindeliana no Brasil. Suas aulas, dentro e fora da Fraternidade Rosacruz, formaram e inspiraram várias gerações no estudo e vivência da Filosofia Rosacruz. Seus alunos, de diversas gerações, profissões e formações acadêmicas, vinham de todos os bairros da cidade, e a expressão original dessas aulas permanece como uma boa semente na produção intelectual, artística e anímica de todos os que tiveram o privilégio de assisti-las. Seu ministério ultrapassou fronteiras geográficas e sociais. Ministrou milhares de conferências por diversos estados do Brasil e também em diversos países latino-americanos. Manteve durante várias décadas um programa radiofônico na antiga rádio Copacabana, chamado A VOZ ROSACRUZ. Prestou assistência espiritual a presidiários em institutos penais do Rio de Janeiro, procurando estimular os valores espirituais entre aqueles que a sociedade condena, mas não salva. Promoveu diversos conclaves rosacruzes, promovendo o vegetarianismo e valores aquarianos de resolução de conflitos. Foi redatora e editora, durante várias décadas, do CORREIO ROSACRUZ, Jornal Cristão-Espiritualista. Oficiou serviços esotéricos e palestras para adultos e jovens na Escola que estabeleceu, até ser chamada para um trabalho maior nos mundos invisíveis. Todos aqueles que tiveram o privilégio de compartilhar sua presença e assistir suas memoraveis aulas são testemunhas de seu profundo conhecimento espiritual, carisma, eloqüência, inquestionável clarividência, raro misticismo e de uma vida consagrada absolutamente ao idealismo rosacruz.

Quantas vezes exclamamos que estamos sós e que a solidão é algo tão triste e que nos sentimos tão separados de tudo! Pensamos assim porque não pensamos como Espíritos imortais que somos. Pensamos apenas como criaturas envolvidas em uma vestidura de corpos, expressando-se através de um cérebro. Mas, neste momento em que tudo o que nos cerca tem uma expressão de quietude e solidão, nunca, em momento nenhum, a criatura está só. Estes sublimes momentos que chamamos de solidão são momentos maravilhosos para podermo-nos encontrar na relação que temos com DEUS.

Ter relação com DEUS parece um paradoxo, simplesmente uma expressão, mas, se o sentimos e se passamos a sentir esta relação com DEUS, vemos que não estamos separados de nada e, em nenhum momento, estamos sós. Para sentir, é preciso antes ter compreendido, buscando a manifestação de DEUS e buscando a origem de nós mesmos.

Como poderíamos ter existido sem DEUS? Como poderia algo manifestar-se sem DEUS? Nada existiria, nem existirá o que pensar, senão por glória infinita e pela misericórdia da grande Piedade manifestada de DEUS.

DEUS pensou e, através de Seu pensamento, nos criou. Que magnífico o Evangelho de São João! Diz o 1º versículo do capítuloI : “O Verbo é DEUS’. O Verbo é o pensamento. Um pensamento que se movimenta em seu criador. Um pensamento que somos nós. Nós somos pensamentos vivos de DEUS. Como pode separar-se um pensamento nosso? Poderíamos separar-nos de nosso próprio pensamento? Assim, não podemos separar-nos de DEUS, porque nós somos a expressão do Seu Pensamento. Sim, a expressão de Seu Pensamento.

Assim como um pensamento nosso cria e se manifesta através das formas, uma vez levado à idéia e esta idéia haver-se posto em prática, assim nos manifestamos em pensamentos de DEUS. Sim, ficamos envolvidos em matérias e as especializamos, manifestando-nos sempre na vida de DEUS.

Há um trabalho sublime e especial de cada pensamento de DEUS. Assim nós, divinos em princípio como pensamentos de DEUS, reverberando-nos como reverbera nosso pensamento, assim como nosso pensamento se envolve em diversas substâncias e logo cria e leva à manifestação aquilo que pensamos, DEUS pensou, criou e nós nos manifestamos como uma expressão do pensamento de DEUS. Apenas não somos criadores ainda. Tudo o que criamos é somente de matéria química.

DEUS criou na matéria viva. DEUS criou na primeira essência. Por isso é DEUS, mas DEUS segue criando a manifestação de Seu Amor, de Sua Bondade, de Sua Sabedoria e Vontade em volta de nós. Nós, como filhos divinos dependentes de DEUS, sem havermos d´ELE nos separado jamais, nem separar-nos pela eternidade na qual viemos ganhando experiência, criando já os nossos pensamentos e experimentando a forma deles. Natural que como micros que somos, não poderíamos criar como o macro. O macro cria o divino, o perfeito, e nós experimentamos ainda em formas de matérias mortas. Mas, dentro de DEUS, e se somos pensamentos de DEUS, quão divino e quão incomensurável é o destino destes pensamentos de DEUS!

Já pensastes, amigos, sentindo-se sós, no mais abstrato silêncio e que vós mesmos sois um pensamento de DEUS? Se somos um pensamento de DEUS e se reverberamos estas forças que estão em nós, quão grande e infinita pode ser a nossa criação!

Como ainda não somos sábios, como ainda nossa vontade não é divina, como ainda a nossa atividade não é perfeita, as nossas criações, o modular de nossos pensamentos cria ainda o imperfeito.

Como pensar, sentir, como podemos manifestar-nos e guardar em volta deste pensamento de DEUS a grandeza da Virtude, da Piedade, da Sublime União manifestada através de um reverberar do Infinito concerto de DEUS? Chegará um magnífico dia em que nós, humanos, passaremos a criar com matérias vivas; é compreensível que nossas criações de matérias concretas não sejam perfeitas e, enquanto nosso sentir e amar não chegar à Perfeição, não poderemos criar com matérias vivas porque seriam, então, diabólicas as nossas criações.

Mas tudo reverbera, soltando ondas de anéis cada vez maiores. É verdade que o destino do homem é ser um dia um perfeito criador. Há homens que já fazem sua própria criação, já modelam matérias vivas, já criam e se manifestam como pensamentos reverberantes de um Verbo da Infinita e Primeira Essência dada por DEUS.

Pensai, amigos, se tudo isto é verdade, se tudo isto deve ser tomado profundamente a sério, se tão séria, se tão grave, mas tão sublime é a vida da criatura humana. Que profundo e que necessário é o silêncio e quão mais criadora é a solidão! Sim, amigos, é preciso saber que, na existência de uma criatura, não há um só segundo de solidão. Estamos sempre envolvidos e acompanhados pelo Infinito, na Onipresença, e pelas criações e reações em nosso ser.

Como se poderá criar? Naturalmente, pondo em atividade os veículos internos, os veículos do Espírito. Isto acontece quando nossa vida se acerta, quando nosso pensamento é limpo, quando nosso desejo é puro, quando nosso sentimento é nobre, quando nossas atividades vão sempre ao encontro de criar, unir e magnificar este Pensamento de DEUS.

“No princípio é o Verbo” e o micro verbo, a criatura de DEUS, começa a vibrar intensamente. Com a voz da consciência, cada indivíduo começa a trabalhar como uma ponte divina de unificação com DEUS. Mas nos dizem que só os puros e limpos de coração verão a DEUS, vê-LO-ão refletido em seu coração e manifestado em seus pensamentos.

Quanto e quanto é preciso que a humanidade compreenda! Bem sei eu, particularmente, que, na humanidade toda, existe a necessidade de compreender o Princípio Criador. Para compreender e manifestar-se como Princípio Divino que somos, haveria uma necessidade constante de falar, sentir e pensar como que para DEUS. Por que causa espanto dizer que a criatura humana deve pensar como que para DEUS? Se de DEUS viemos, se para DEUS vamos e se de DEUS é tudo o que temos, não poderemos viver ocultos da vida de DEUS.

Seria muito natural que pensássemos e que agíssemos como unificantes criaturas, buscando-nos como gotas de água caindo no oceano da vida de DEUS e que, como em um mar ondulante, manifestássemo-nos seguros numa barca onde não houvesse o perigo das ondas da vida, senão como nos disse o Senhor: “Não temais; Eu Sou”. E quando Pedro passou-lhe a experiência de sentir-se só no Mar Bravio, disse-lhe o Senhor que tivesse fé.

A fé é algo indefinível. A fé é como a Bíblia: serve para toda interpretação. Ela é como o pão dos pobres que é dado de mesa em mesa, de migalha em migalha, e, por último, até o próprio cão recebe a última migalha. Assim é o conhecimento profundíssimo que DEUS nos legou para que busquemos por toda a vida, com toda a ânsia, viver como um pensamento manifestado Dele.

Oh! Parece que não houvesse mais que falar, que houvesse que existir um silêncio profundo, uma imensa solidão! Um mar profundíssimo e, como navegantes da vida de DEUS, tomar a direção sábia e amorosamente do destino que DEUS nos deu. Criando um mundo com uma característica tão real, tão notável, sem falar, somente pensando, é que teríamos força de Luz de Amor, de Saúde, e de Poder e, assim, cessariam para sempre a escuridão e todas as demais facetas de conseqüências naturais por não haver podido a humanidade compreender ainda que é um pensamento de DEUS em manifestação.

Por onde vamos, por onde levamos DEUS e o que fazemos da vida que é vida de DEUS? Que desde agora, para todos os que meditam seriamente, para os que possam acreditar, mesmo para aqueles que se disponham a pensar, manifeste-se, em realidade, na mente e no coração, que somos pensamentos de DEUS, que somos como filhos da vida do próprio DEUS e que não devemos, por nenhum modo e por nenhuma forma, entrar em conflito nem em choque, porque pomos em destruição o próprio pensamento que é de DEUS.

Amigos, parece que o coração se enche de Amor e que a mente se torna serena diante do Macro Espírito de DEUS. Seja isto bastante para nos sentirmos unidos e, reverberando os pensamentos de DEUS, encontremos Paz, Alegria, um mundo que busca somente manifestar-se na procura de magnificar, magnificando a vida que nos vem de uma única fonte - DEUS.

- Palestra radiofônica feita ao microfone da Rádio Copacabana, no Programa "A Voz Rosacruz", 15/09/1959 .

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