Comunicação com o Além por Meios Técnicos

A Transcomunicação



Terminaram as festas de fim de ano. E depois de uns curtos dias de férias e algum tempo dedicado ao convívio familiar volta-se à realidade de todos os dias.

Na maior parte dos casos, o Natal é só um pretexto para pôr em dia assuntos de família. Quando muito, servirá ainda para alimentar esperanças sepultadas e seladas num túmulo, há quase dois mil anos.

Os próprios discípulos devem ter suportado momentos de nostalgia enquanto o Mestre não foi ter com eles, segundo a forma como descreveram esse acontecimento histórico a que se chama ressurreição (1).

Foram animados por urna visão. De início ficaram cheios de pavor e depressão. Para eles, a prova da existência do Mestre firmava-se naquilo que se chama "aparição". Até que ponto elas são físicas ou psíquicas é o que importa averiguar.

Os textos mais antigos do evangelho de Marcos, que é o mais antigo dos sinópticos (2), terminam no capítulo 16,81 (3). Omitem a aparição de Jesus, que validaria a ressurreição noutras passagens dos evangelhos, Os versículos 9 a 20 são de redacção nitidamente posterior (4). Voltemo-nos, então, para factos mais recentes.

A evidência que demonstra a realidade de três tipos de aparições -vivos, moribundos e mortos - é abundante e bem detalhada. C. Green e C. McCreery (1975) analisaram exaustivamente diversos casos. 0 conhecido Camilo Flamarion também reuniu interessante quantidade de registos, embora, em muitos casos, não usasse de grande rigor.

Observadores atentos deram conta de que esses fenómenos necessitam de certo tipo de energia. Admitia-se que era uma espécie de substância fluídica, capaz de receber, incorporar e reflectir a impressão de ideias e acção de espíritos (5). Esse fluído recebeu variadíssimos nomes. Segundo as tradições hindus chama-se prana. 0 termo mais vulgar é "mana", palavra usada pelos habitantes das ilhas do Sul do Pacífico.

Esta energia fisiológica, proveniente do "corpo vital", é que permite a manifestação de diversos fenómenos, chamados "fenómenos psi": sons de carácter muito variado, parecendo provir dos móveis ou soalho, etc., movimento de corpos pesados ou a materialização de espíritos (7).

Outros fenómenos possíveis são as "psicofonias" (produção de vozes e sua gravação em fita magnética) e as "psicoimagens" (registo de imagens em fotografia e, modernamente, em vídeo).

As Psicofonias

Diz-se que Edison (1874-1931) e Marconi (1874-1937) se interessaram por este assunto, assim como os alemães, durante a Grande Guerra (8). A primeira investigação rigorosa fez-se em 17 de Setembro de 1952, no laboratório de Física da Universidade do Sagrado Coração, em Milão, na Itália, com a participação dos padres Gemelli e Pellegrino Ernetti.

Foram então divulgadas por Jurgenson, homem de confiança do cardeal Montini (o futuro Papa Paulo VI), depois de 1958, quando a vitória dos democratas-cristãos italianos facilitaram a resolução de vários problemas da Igreja Católica, não só de natureza económica, mas também social e científica.

0 que mais prejudica o estudo sério das psicofonias é a crença de que este fenómeno pode ser reproduzido por qualquer pessoa. De facto, o próprio Jurgenson ocultou, até 1967, pormenores relevantes para o estudo destes fenómenos.

Os seus primeiros registos magnéticos de vozes foram conseguidos de maneira diferente da inicialmente descrita. Só mais tarde revelou, por exemplo, ser entusiasta pelos assuntos do "oculto" e ter sentido um impulso "irresistível" para iniciar as gravações (9) Estas condições reduzem consideravelmente a independência do investigador relativamente ao assunto em estudo. Sabe-se, com efeito, que as psicofonias são obtidas mais facilmente na presença de crentes e de médiuns.

Admitindo que o fenómeno da produção de vozes em fita magnética e o da materialização (produção de uma forma humana ou animal com densidade suficiente para se tomar visível e fotografável) se baseia na energia exteriorizada pelo corpo vital, podendo, assim, agir à distância, não fica provada, em definitivo, a origem das vozes gravadas em fita magnética.

Nem sequer se ela ocorre por meio da acção da cabeça de gravação do equipamento usado. A explicação é, talvez, mais difícil, se em vez da "gravação directa" (uso simples do gravador, com microfone), se recorre, para "facilitar" a gravação, a um "ruído de fundo" proveniente de um aparelho de rádio sintonizado numa frequência não utilizada por estações emissoras (por exemplo entre os 7 e os 9 mhz), ou quando se usa um "gerador de campo", ruídos diversos, etc.

As Psicoimagens

A maior parte das gravações de vozes é de péssima clareza e a interpretação é insegura. "Não são claros os motivos por que essas vozes dão informações linguisticamente deturpadas e defeituosas, parecendo revelar uma confusão de pensamentos desordenados", diz T. Locher, um investigador das psicofonias.

As conclusões sobre a origem das psicoimagens parecem igualmente pouco consistentes e confusas. Ignoraram-se, intencionalmente ou não, diversas experiências com a fotografia de imagens mentais. Desde 1860 que se sabe que o pensamento (energia da mente) pode dar origem a imagens capazes de impressionar uma película fotográfica. É possível fotografar imagens de rostos, objectos, etc., "pensados" por algumas pessoas mais dotadas.

Estas experiências, feitas metodicamente no Japão pelo físico Fukarai e nos Estados Unidos por diversos investigadores, entre eles Jule Eisenbud, da Universidade do Colorado, mostram como esses resultados podem ser obtidos e controlados. Nas experiências com Ted Serios utilizaram-se máquinas fotográficas "Polaroid", (para evitar a possibilidade de "truques" relacionados com o uso do negativo) (10)

Usando as sempre as mesmas condições técnicas (11), aparecia, inconfundível, a imagem que evocava mentalmente a pedido dos participantes na experiência. Em alguns casos nem sequer foi preciso abrir o invólucro original onde as fotografias Polaroid estavam embaladas. Experiências feitas em 1967 nos estúdios da rede de televisão KOA-TV, de Denver, Colorado, E.U.A. permitiram-lhe gravar imagens mentais em película cinematográfica.

A fotografia do pensamento e a sua influência sobre a matéria é várias vezes referidas por Max Heindel nas suas obras (12). Curioso é o facto de Ted Serios recorrer a um estado de euforia alcoólica para obter melhores resultados, provavelmente para en-volver de modo mais intenso a substância mental e emocional, como explica detalhadamente Max Heindel (13).

As imagens registadas em fotografias e filmes de vídeo podem muito bem ser originadas na mente dos experimentadores, sem haver, então, qualquer relação com os espíritos. Nos resultados obtidos interviriam, assim, dois ou três fenómenos: a telepatia, a clarividência e a psicocinésia de que resultaria a acção sobre a emulsão fotográfica.

Conclusão

0 investigador conscencioso tem de aceitar todas as explicações possíveis, mesmo sendo contraditórias, para as analisar. A procura da verdade não aceita posições cómodas nem tolera simpatias por esta ou aquela tese.

De todos os dados disponíveis, pode-se concluir que:

1. Os dados obtidos, com os actuais recursos, podem ser influenciados pelos experimentadores, conscientes disso ou não; os melhores resultados estão associados a um elevado grau de simpatia pelo assunto, relegando para segundo pla-no a qualidade e sofisticação do equipamento.

2. A possibilidade de haver outras explicações para o fenómeno, para além da que parece evidente, é uma possibilidade a considerar.

2. A simples repetição desta categoria de fenómenos, nunca ou raramente espontâneos, além de perigosa (eventual sugestão para o suicídio, perturbações psíquicas, etc.), não acrescenta qualquer dado satisfatório à antiga hipótese espírita.

3. Pelo contrário, uma análise dos fenómenos obtidos, baseada no "empirismo radical" de William. James oferece boas razões para acreditar que o estudo da consciência (e da sua existência independente do corpo, isto é, depois da morte), se possa tornar em breve uma das mais entusiásticas áreas de estudo da ciência.


Glossário

Mana. Termo genérico para designar a energia vital projectada do corpo físico.

Sinópticos. Que tem a forma de sinopse. Os evangelhos sinópticos são os de Mateus, Marcos e Lucas. Se forem dispostos numa tábua ou sinopse, em colunas paralelas, toma-se evidente que não são documentos distintos. 0 consenso geral inclina-se para que tenham sido Mateus e Lucas a copiar Marcos (cujo evangelho foi o primeiro a ser publicado) e outro documento denominado "q'" (de Quelle, que significa fonte, em alemão). É um evangelho que esteve perdido, o mais antigo de todos, que transtorna a imagem convencional das origens do cristianismo
.
Transcomunicação. Tentativa de estabelecer contacto com o mundo espiritual, por meios exclusivamente mecânicos. A experiência revela que as convicções e interesses dos experimentadores condicionam fortemente os resultados obtidos.

]Psicofonia. Fenómenos de voz directa, música trancendental. Podem ser registados em fita magnética.

Telecinésia. Movimento de objectos à distância.

Notas

1. À semelhança dos mistérios de Eleusis, a luz brilhou na treva e o desespero deu lugar à alegria. Dado o ~do de espírito de Paulo, é de supor que esta visão viesse de fora o não de dentro. É o seu carácter inesperado que lhe muda a vida. Esta visão e o que ela representa é a base do cristianismo histórico, Sem ela esta religião nem sequer teria começado. Todavia, para entender racionalmente esta visão, é preciso abandonar a ideia absurda da ressurreição "do corpo". Entre os Egípcios, como no seio dos Persas, fiéis à religião mazdeísta de Zoroastro e entre os cristãos dos primeiros séculos, existiam duas versões da ressurreição. A primeira, popular e absurda, significava o regresso da vida ao corpo, a reconstituição do cadáver decomposto. Foi a versão que a Igreja reteve, depois da repressão- do gnosticismo. A segunda versão, espiritual e esotérica, era defendida pelos iniciados. Paulo refere-se-lhe quando diz "Há um corpo animal e um corpo espiritual" (I Cor, 39-46) Nas suas conversas secretas com Nicodemos, Jesus dá abundante informação sobre este assunto a quem sabe ler nas entrelinhas. A desaparição do corpo de Jesus pode ser explicado por causas naturais e é comum a outros adeptos, como Moisés, Pitágoras e Apolónio de, Tisna.

2. 1. Lentsman, A Origem do Cristianismo, Lx', 1988, pág. 195.

3. Robin Lane Fox, The Unauthorized Version, Penguin Books, 1991, pág. 143.

4. Robin Lâne FoY, ld., pág. 144.

5. Brian Inglis, Fenómenos Paranormales, Tikal, 1994, pág. 14.

6. Sejam eles extranormais ou paranormais.

7. Max Heindel, 0 Véu do Destino, Sintes, Barcelona, pág. 47.

8. Friedrich Jurgenson não foi o pioneiro destas gravações, como julga H. Schafer e outros entusiastas do assunto. Cf. F. J. Mañez, Psicofonias, Una História Mal
Contada, Julho de 1994.

9. Segundo uma entrevista ao jornal britânico Psych News, de 1993.

10. As máquinas Polaroid não usam negativos. A imagem forma-se directamente na emulsão do papel.

11. Luz, abertura do diafragma (01) velocidade de obturação (1130), etc.

12. Max Heindel, 0 Véu do Destino, Lisboa, 1998, e outras.

13. Max Heindel, Temas Rosacruzes, Kier, 1986, pág. 12


- Fonte: Revista "Rosacruz", Fraternidade Rosacruz de Portugal

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