Estudo de um Caso que Sugere Reincarnação
A Reincarnação
Nota de revisão: as notas de rodapé
encontram-se assinaladas por um número entre parêntesis; foram colocados no fim
do parágrafo onde a nota se assinalou inicialmente.
I
PARTE
Métodos de Estudo
de Casos Espontâneos de Recordação de Vidas
Anteriores
Para reconstituir factos passados, no estudo de casos
espontâneos de recordação de vidas anteriores, os investigadores psíquicos têm
utilizado os mesmos métodos usados pelos historiadores, juristas e psiquiatras.
Na maior parte destes casos, as descrições desses factos decorreram
antes do investigador iniciar a análise do caso. Por conseguinte, o resultado
alcançado irá depender, fundamentalmente, da sua capacidade como entrevistador,
ou seja, da sua destreza para conduzir e analisar o depoimento.
Apesar
disto, é necessário ter em conta, durante a realização dos inquéritos, a
impossibilidade de se confiar totalmente nas lembranças e mesmo nas percepções
dos pacientes e das testemunhas, os quais podem omitir ou acrescentar detalhes
ao caso, alterando, por vezes de forma radical, a representação fidedigna dos
acontecimentos.
Tais discrepâncias entre os «factos» e os depoimentos
podem resultar da interferência de desejos ou apreensões pessoais, sempre
possível de ocorrer quando o indivíduo se confronta com algo que se reveste de
grande importância emocional.
A existência de uma deficiência
intelectual no entrevistado também é uma hipótese a não excluir. Mas se nos
perguntarem como descobrimos tais erros, temos que reconhecer que o fazemos
através da comparação de diversos testemunhos sobre a mesma ocorrência.
Nunca se deve prescindir do testemunho humano; quando este não apresenta
grande fiabilidade, ao invés de o rejeitar, o investigador deve, antes, testá-lo
e aprimorá-lo. Os juristas e os historiadores procuram obter documentos
cronologicamnte próximos dos acontecimentos em estudo.
Sabem,
entretanto, que os escritos apenas conferem autenticidade a um documento pelas
qualidades do autor; um documento escrito por uma testemunha duvidosa tem menos
valor do que o testemunho verbal de uma outra que mereça mais confiança. Mas,
quanto a isto, eles pouco podem fazer.
No estudo dos casos relatados
procurei aplicar esta metodologia. Infelizmente, verificaram-se dois pontos
fracos em muitas das investigações efectuadas: primeiro, as informações dos
pacientes (geralmente crianças) não foram escritas antes de uma (primeira)
tentativa de verificação (ocorreram duas excepções: o caso de Swarnlata Mishra e
o de Imad Elawar); segundo, as crianças não reconheciam pessoas nem lugares
relacionados com as suas supostas vidas anteriores, a menos que se mantivessem
ligadas às famílias envolvidas nos estudos (raras foram as excepções; por
exemplo, o caso de Imad Elawar).
Como medida para minimizar a frequente
ausência de oportunidade de observação directa dos factos passados, recolhi o
maior número de depoimentos possíveis assim como voltei a entrevistar as mesmas
testemunhas, com um intervalo de um a vários anos.
Por vezes, também me
foi possível comparar os resultados dos meus inquéritos com os de outras
pessoas, independentes e cuja competência reconhecia.
Depois de recolher
todos esses testemunhos foi-me possível comparar as declarações feitas por
diversos membros de uma família ou comunidade com as declarações, relativas aos
mesmos casos, feitas por membros de outra família ou comunidade; pude também
comparar os depoimentos prestados, em diferentes ocasiões, por uma mesma pessoa
quer mim quer a outro investigador.
Isto leva-nos à questão da validade
das informações assim obtidas, aspecto importante, que discutirei depois.
Desejo, porém, realçar que a informação verbal constituiu apenas uma parte da
recolha dos dados, uma vez que tive, em alguns casos, a oportunidade de observar
directamente a atitude do próprio sensitivo e dos familiares, fossem estes os
actuais ou os da sua vida anterior.
Posso igualmente esclarecer que a
atitude da criança, nestes acontecimentos, correspondia perfeitamente ao que a
testemunha me havia informado relativamente ao seu comportamento. Isto aumenta
minha confiança relativamente ao que me foi declarado, isto é, o que uma criança
alegava lembrar-se (cujas declarações eu geralmente não poderia obter
directamente) correspondia às declarações dadas pelas testemunhas.
A
identificação dessas crianças com as suas personalidades anteriores parece-me um
dos aspectos mais importantes destes casos. Tal identificação, revestida de
componentes comportamentais fortemente emocionais, transcende a simples
repetição, pela criança, de informações sobre outra pessoa que viveu antes.
Na minha opinião, esses aspectos comportamentais não só aumentam
consideravelmente a sua autenticidade como ampliam enormemente as possibilidades
de estudar a personalidade humana.
Detecção e Eliminação de Possíveis
Erros na Recolha de Dados
A validade deste tipo de factos depende da
precisão do depoimento das testemunhas e, na falta de relatos escritos, contamos
com os depoimentos corroborantes de diversas testemunhas. Portanto, procurei
obter o máximo de testemunhos possíveis para cada caso.
O depoimento de
diferentes testemunhas, ou o da mesma testemunha em épocas diferentes, foram
confrontados entre si. Verifiquei também que ocorreram discrepâncias em cerca de
dez por cento de todas as declarações. Tal incidência, inferior à que eu
esperava quando iniciei tais estudos, aumentou a minha confiança na exactidão
geral dos informadores; globalmente, os relatos harmonizam-se.
Além do
mais, as discrepâncias quase sempre ocorreram em detalhes acessórios e não em
acontecimentos fundamentais: por exemplo, as testemunhas podem estar de acordo
em que a criança reconheceu um determinado devedor, que tinha algo a pagar à
personalidade anterior, mas discordam quanto à soma devida, ou, então, podem
estar de acordo quanto à forma da morte de uma pessoa, mas discordar quanto à
data da ocorrência.
Alguns detalhes são cruciais; mas não pretendo dar a
entender que se devem menosprezar todas as discrepâncias nos detalhes. Desejo
apenas tornar claro que a maioria das divergências ocorre mais em relação a
pormenores do que às linhas gerais dos acontecimentos.
Não obstante, o
tratamento das divergências nos depoimentos desta natureza constitui um problema
difícil. Por um lado, certas testemunhas, desde o início (ou mais tarde),
mostram-se inconsistentes, aparentando ter um conhecimento dos acontecimentos
mais vago do que na realidade acreditavam; parece injusto permitir que o
testemunho de tal pessoa invalide o de outra, obviamente mais fidedigna, pela
simples razão de apresentar uma discrepância.
Por outro lado, não seria
justo se se suprimisse todo depoimento discordante, uma vez que com isso
poder-se-iam, embora inconscientemente, desvirtuar os dados relativos ao facto.
Pareceu-me, contudo, que a eliminação total de alguns itens que
apresentassem discrepâncias ocasionariam, quase sempre, um enfraquecimento da
evidência de paranormalidade dos casos. Somar tais itens discrepantes aos
testemunhos consistentes, também poderia, indevidamente, fazer com que os factos
parecessem mais «ricos» do que realmente são.
Concluí, portanto, que
poderia, com segurança, eliminar por completo a maioria dos itens onde
ocorressem depoimentos discordantes. Mas retive alguns, oferecendo em cada caso
um comentário sobre tais testemunhos divergentes.
Presentemente, tenho
dado muito mais atenção à análise de divergências individuais do que antes, e
pareceu-me conveniente remontar, tanto quanto possível, à origem de cada uma;
isto tornou-se mais fácil com dois intérpretes do que apenas com um.
Verifiquei, então, que algumas discordâncias ocorriam devido a enganos
na interpretação, uma vez que, por vezes, a tradução era feita com ligeiras (ou
sérias). Outras discrepâncias ocorriam porque a testemunha, não havendo
compreendido determinada pergunta, respondia de acordo com a idéia errada que
fazia daquilo que lhe tinha sido perguntado. Outras surgiam ainda, por falta de
atenção ou de memória da parte das testemunhas.
A análise das
disparidades, durante ou pouco depois das entrevistas, permitiu-me "salvar"
alguns aspectos importantes que, de outro modo, ter-se-iam perdido. Isto
aumentou a minha convicção de que a eliminação de tais aspectos discordantes,
enfraquecia o caso, em lugar de o reforçar.
Com raras excepções, todo o
depoimento registado proveio de uma testemunha em primeira mão. Ocasionalmente,
conservei o depoimento de testemunhas secundárias, o que sempre mencionei no
relato dos casos.
Substituí por pseudónimos todos os nomes dos pacientes
e das testemunhas nos casos do Alasca, a fim de os defender contra uma possível
divulgação incómoda. Mas em todas as outras narrativas mudei apenas um nome (no
caso de Imad Elawar), deixando todos os demais informadores testemunharem sob
seus verdadeiros nomes.
Darei a seguir alguns detalhes particulares das
três fontes mais importantes de erro nos relatos, bem como as providências
tomadas para reduzir, ou não levar em conta, a sua importância como factores de
enfraquecimento dos casos.
Traduções e Possíveis Erros de
Intérpretes
Conheço bem francês e alemão e sei um pouco de espanhol e
português. Admito, entretanto, não ter conhecimento apreciável de línguas
orientais, como o árabe e o hindu.
Os erros de tradução e interpretação,
foram, provavelmente, uma das influências indesejáveis mais importantes nos
relatos obtidos por meio de intérpretes em alguns dos casos na Índia, no Ceilão
e no Líbano.
Dos sete casos da Índia necessitei de intérpretes em cinco
(no caso de Swarnlata quase todas as testemunhas falavam inglês e no caso de
Mallika falavam principalmente o francês). Nesses cinco casos tive dois, e por
vezes, três intérpretes.
Em 1964 fui assistido por dois intérpretes
simultaneamente: um traduzia, enquanto eu tomava notas em inglês; o outro
conferia a tradução e também tomava notas em hindi, as quais comparávamos,
posteriormente, com minhas notas em inglês.
Nos três casos do Ceilão
utilizei (ao mesmo tempo) dois intérpretes para um deles (o de Wijeratne) e um
para os outros dois, embora num destes dois últimos (o de Gnanatilleka) uma das
principais testemunhas falasse inglês.
Para o caso de Imad Elawar, no
Líbano, tive três intérpretes em diferentes ocasiões.
Em suma, em nove
dos onze casos asiáticos, para os quais necessitei de intérpretes, tive pelo
menos dois a trabalhar comigo em cada ocasião. Assinalei algumas discrepâncias
atribuíveis a erros de tradução, mas creio que tais erros afectam apenas um
pequeno e insignificante grupo de todos os itens dos casos (1).
(1) Nos
relatos que se seguem, forneço alguns detalhes suplementares sobre a
investigação dos casos, incluindo a utilização de intérpretes
Métodos
de Registo e Erros Prováveis
Outros erros podem ter-se insinuado nos
registos, por ocasião da transcrição das declarações das testemunhas ou das
minhas observações do seu comportamento.
Costumo tomar notas escritas à
medida que a testemunha ou o intérprete falam. Prefiro este método ao uso de
gravadores porque: a) frequentemente o gravador produz uma inibição inicial na
testemunha, que pode tornar-se esquecida ou reservada até que se acostume; b)
uma vez que no Oriente raramente se podem ter entrevistas completamente privadas
(pois, geralmente, várias pessoas se reúnem a fim de darem seu testemunho em
conjunto), o gravador deixa, por vezes, de dar informações adequadas a propósito
de quem disse o quê, facto ao qual atribuo muita importância.
Ouvindo a
gravação posteriormente, talvez não seja possível reconhecer correctamente de
quem são as vozes. Além disso, as gravações não fornecem os nomes dos
intervenientes e, frequentemente, por exemplo, se uma voz de súbito baixa de
volume, perdem-se detalhes das informações.
Em minha opinião, as notas
escritas são, portanto, indispensáveis e não vejo razão por que não se possa
confiar nelas, desde que sejam tomadas à medida que a testemunha fala ( em
alguns casos, como por exemplo, quando a testemunha falava num automóvel,
ocorreram circunstâncias que me obrigaram a tomar minhas notas ao voltar para o
hotel algumas horas depois, ou, mais raramente, no dia seguinte).
A minha
confiança na exactidão das minhas notas, feitas durante as entrevistas, foi
reforçada por algumas experiências na Turquia. Durante o estudo de alguns casos
efectuados neste país, em março de 1964, tomei notas como de costume, procurando
fixar o maior número possível de detalhes.
Ao mesmo tempo, M. Resat
Bayer, que me assistia como intérprete, também registou as entrevistas (com
poucas excepções) num gravador portátil. Depois eu mandei a M. Bayer cópias de
todas as minhas notas e ele, cuidadosamente, comparou-as com o material contido
nas fitas gravadas, relativamente a detalhes mantidos ou alterados.
Tal
comparação mostrou que eu não havia cometido erros de maior importância em
minhas notas, e o Sr. Bayer apenas achou um pequeno número de discrepâncias
irrelevantes nos detalhes.
A mais séria delas foi eu ter registrado a
idade de uma criança entre dois e meio e três anos, quando, de acordo com a
fita, deveria tê-lo feito entre dois e dois e meio. Perdi alguns pormenores
captados nas fitas, sem dúvida porque no momento eu estava a escrever o que
acabava de ser dito, enquanto o intérprete prosseguia falando outras coisas.
Mas o ponto mais importante dessa comparação foi que eu não havia, em
minhas notas, adicionado nenhum detalhe aos registados nas fitas.
No
importante trabalho de interrogar as testemunhas, avaliando a exactidão de suas
declarações e detectando importantes omissões ou discrepâncias, tive a
felicidade de contar com a assistência do Sr. Francis Story, que me acompanhou
ao Ceilão em 1961 e à Índia em 1964.
A sua participação activa no estudo
dos casos deu-me a oportunidade para a análise dos depoimentos, bem como de
quaisquer discordâncias ou outras dúvidas apresentadas enquanto o material
permanecia ainda recente.
Penso que essa colaboração reduziu as
probabilidades de subestimar ou deixar de registar alguns pontos importantes
surgidos durante as entrevistas.
Erros de Memória por Parte das
Testemunhas
Chegamos, a seguir, ao factor mais importante na validade dos
relatos: a fidelidade das lembranças das testemunhas.
Supondo que existe
uma grande concordância entre as diversas testemunhas nos factos principais de
um caso (conforme se dá naqueles aqui tratados), como poderemos saber se a
testemunha chegou a essa concordância independentemente, e não por influência de
opiniões correntes consideradas abalizadas que, de uns poucos factos relativos
ao comportamento da criança, elaboraram uma longa história?
Possivelmente, todos do grupo concordam, sem grandes preocupações, que
«viram» ou «ouviram» certos fatos, que por eles não foram vistos nem ouvidos, do
género que aconteceu com as vestes do Imperador (que ia nu) impostas à populaça
por temor ou credulidade.
Ou, tomando um exemplo real, da mesma forma
que se tornou moda usar barra nas calças, porque o camareiro do Rei Eduardo VII,
um dia, inadvertidamente, depois de engraxar-lhe os sapatos, esqueceu-se de
desenrolar as calças do Rei, antes que ele saísse.
Os elegantes da época
logo acharam cómodo ou, pelo menos, oportuno usar barra em suas calças.
Em
poucas palavras, temos aqui uma teoria sobre erros de memória e de depoimento
gerados por motivações alheias.
Eu diria que o principal argumento
contra a probabilidade da ocorrência dessa epidemia generalizada (ou mesmo
localizada) de ideias repousa nas acentuadas diferenças de atitude das várias
testemunhas em relação aos eventos focados.
No Ocidente, os críticos mal
informados pensam geralmente que, uma vez que no Oriente todos (ou quase todos)
acreditam na reencarnação, ninguém está isento de aceitar cada história com um
sabor reencarnacionista, embora pareça improvável esse carácter de reencarnação.
Entretanto, é perfeitamente certo que a crença na reencarnação está
difundida no Oriente, onde é bastante frequente sua aceitação, mas quando se
chega aos casos específicos, verifica-se que as pessoas neles envolvidas, por
vezes adotam atitudes bem diferentes.
Em primeiro lugar, existe uma
crença generalizada de que a lembrança de vidas pretéritas condena à morte
prematura, e muitas vezes os pais usam de medidas enérgicas e mesmo cruéis, para
evitar que uma criança fale sobre uma vida anterior.
Além disso, a
criança que insiste em declarar-se pertencente a outra aldeia onde viveria mais
feliz, ou outra que denota atitudes mentais estranhas às de sua família, traz um
seríssimo problema para os seus e para si própria.
E não faltaríamos à
verdade, afirmando que muitas dessas crianças ameaçam mudar-se para o outro lar,
o que algumas ocasionalmente levam a efeito (ex., Prakash e Parmod). Por vezes,
a criança e os pais comprazem-se com parte da publicidade proveniente de
afirmação da lembrança de uma vida passada.
Porém, mais frequentemente,
acham que a publicidade implica em insuportável aborrecimento e prejuízo; nada
lucram e perdem o sossego de sua vida familiar.
A confirmação da
relutância dos pais em buscarem publicidade para o caso advém, frequentemente,
de outras testemunhas, como, por exemplo, vizinhos que se recordam da idade que
tinha a criança quando pela primeira vez começou a falar de uma vida anterior.
Em média há um lapso de três a cinco anos entre o período das primeiras
declarações da e o desencadeamento da publicidade sobre o caso, fora do círculo
íntimo da família.
Observei frequentemente que os pais resistiram (por
vezes durante anos) ao insistente pedido da criança para ser levada a outra
cidade onde dizia ter vivido antes. Se tomarmos em consideração todas essas
circunstâncias, que podem influenciar a disposição das testemunhas em relação
aos casos, devemos rejeitar a teoria que sugere que toda a concordância de
evidências, favorecendo interpretações paranormais dos casos, origina-se de
erros de memória (motivados) das testemunhas.
As tendências de muitas
das testemunhas ocasionam uma distorção no relato dos eventos, afastando-os de
interpretações paranormais ou reencarnacionistas. Frequentemente as testemunhas
forçam o seu depoimento a respeito de algo que a criança disse pois sabem que
existe a possibilidade da mesma deixá-las ou então preferir viver com uma outra
família.
Dois outros aspectos que se repetem nos depoimentos levam-me a
reforçar a confiança neles. Primeiro, se a testemunha tivesse distorcido os
relatos manifesta e separadamente, seria de esperar uma incidência muito maior
de discrepâncias entre os depoimentos das diferentes testemunhas.
Se a
testemunha "A" tivesse elaborado a história, restringiria ela a sua elaboração
de modo a que esta coincidisse quase exactamente com a história da testemunha
"B", sem se falar em "C", "D" e outras? A ideia de que as testemunhas se
influenciam reciprocamente tem mais sentido do que a hipótese de que tenham
elaborado suas histórias individualmente e, acidentalmente, chegado ao mesmo
ponto.
Mas, relativamente a isso, é claro que embora algumas das
testemunhas pudessem ter-se influenciado reciprocamente (e é quase certo que o
fizeram), em outros casos as testemunhas não poderiam de modo algum ter feito
tal coisa (como nos casos de Swarnlata e Imad) ou é quase certo que não o
fizeram, porquanto colocaram-se em pontos opostos de uma controvérsia (como nos
casos de Prakash e Ravi Shankar).
Além do mais, a existência de algumas
discrepâncias elide a possibilidade de um total falseamento dos relatos. Em
segundo lugar, as testemunhas eram tão sinceras ao nos falarem acerca dos
enganos e confusões por parte da criança, quanto ao nos informarem sobre seus
sucessos (vejam-se especialmente os casos de Swarnlata e Imad, como exemplos de
tais enganos).
Em conclusão, não digo que não tenham ocorrido, nestes
casos, erros intencionais de testemunho, digo sim, que tais erros não podem
explicar toda a concordância (ou discrepância) que encontrei no depoimento de
certo número de testemunhas.
Mas, no que toca a tabulações detalhadas do
que as testemunhas disseram, acerca das declarações ou das identificações feitas
pelos pacientes, e o que outras testemunhas relataram a propósito da verificação
desses primeiros itens, anotei exactamente o que referiram as testemunhas. Isto
não significa que eu tenha utilizado suas próprias palavras, pois tentei citar
tais itens resumidamente, mesmo porque algumas testemunhas usaram expressões
diferentes para descrever o mesmo evento.
O que desejo esclarecer é, que
para cada item assim descrito nessas tabulações, tenho uma nota (quase sempre
feita no momento) de que a testemunha citada fez uma declaração exactamente
correspondendo ao item citado.
E, desde que, como já foi dito, várias
pessoas quase sempre assistiam às entrevistas, outras testemunhas concordaram
verbalmente ou silenciosamente, ou por vezes discordaram do que dizia a
principal testemunha. Assim, de modo geral, era-me possível inscrever
testemunhas adicionais para cada item registado; porém, preferi focalizar a
atenção nas testemunhas principais, as quais me pareciam em melhores condições
para observar os factos que relataram.
Porei minhas notas originais
sobre os casos à disposição de qualquer investigador sério que deseje
compará-las com o material aqui impresso.
Para cada caso forneci (no
respectivo relato) algumas informações e comentários baseados na possibilidade
de transmissão de informações ao paciente, através de meios normais de
comunicação, inclusive por fraude e criptomnésia.
Reservei uma discussão
geral de hipóteses paranormais pertinentes a esses casos, para uma secção à
parte, no final dos relatórios. Mas julguei melhor comentar alguns pontos
importantes enquanto o leitor tem seus detalhes em mente.
No relato dos
casos que se seguem, uso a expressão "personalidade anterior" na maior parte das
passagens, quando desejo referir-me à pessoa morta com quem o paciente em
questão alega identificar-se.
Esta expressão parece menos imprópria do
que outras, como a "sua suposta personalidade anterior" ou "prévia personalidade
alegada". Ao mesmo tempo, a expressão que utilizei não implica uma concordância
com a pretensão da criança de que sua personalidade seja, de fato, uma
continuação da "personalidade anterior".
Esta é a questão central
proposta pelos dados, e dela tratarei na Discussão Geral. De igual modo,
refiro-me geralmente às declarações atribuídas à criança, simplesmente como suas
"lembranças", em vez de suas "ostensivas lembranças de uma vida passada".
As declarações atribuídas ao paciente representam lembranças de alguma
espécie, e a questão reside em saber se são reminiscências do que ouviu ou
aprendeu normalmente, do que sentiu paranormalmente, ou do que vivenciou numa
existência anterior.
Planos para investigações e Relatórios
Futuros
Espero esta exposição das dificuldades apresentadas no estudo
destes casos e das tentativas de superá-las, não deixe a ninguém a impressão de
que eu esteja satisfeito com os presentes métodos. Sinto a obrigação premente de
aprimorar o estudo destes casos, de todos os modos possíveis.
Além de
melhorar os métodos, eu preferiria estudar casos mais recentes do que a maioria
daqueles aqui relatados, o eram na ocasião em que deles tomei conhecimento. Para
isso, há obstáculosa ultrapassar, uma vez que, como já foi dito, as famílias que
têm crianças desse tipo geralmente desejam evitar publicidade e, portanto, só
com relutância expõem a outras pessoas as declarações da criança.
Raramente fazem isto antes de tentarem verificar, por si mesmas, as
afirmações da criança. Espero, entretanto, através de melhor detecção de tais
casos, ter conhecimento de alguns que eu possa examinar imediatamente após a
criança ter feito suas declarações, e antes de sua verificação.
Na
presente colecção de casos foram tomadas notas por escrito, anteriormente à
investigação, em dois deles, o de Swarnlata e o de Imad. Em um outro (o de
Prakash), cheguei ao local dos principais acontecimentos, algumas semanas após a
sua ocorrência, sendo-me possível começar o seu estudo quando eram ainda bem
recentes.
Mas, nos demais casos, sómente estudei os depoimentos, meses
ou anos depois dos acontecimentos originais.
As óbvias limitações ao
estudo de casos deste tipo, mesmo nas circunstâncias mais favoráveis, deveriam
levar-nos a procurar outros meios para a obtenção de mais evidências com
importância. Já me referi às possibilidades, no futuro, de outras e mais bem
controladas experiências, através de hipnose, utilizando como pacientes
especialmente as crianças. Além disso, comecei a estudar os padrões de aspectos
recorrentes em um grande número de casos espontâneos de lembrança de vidas
anteriores.
Pretendo estabelecer a autenticidade de todos os casos da
minha colecção. Espero, então, comparar as características presentes nos casos
incompletamente investigados, com as dos casos em cuja autenticidade tenho maior
confiança, aplicando o método originalmente elaborado por Hart para o estudo dos
fenómenos de aparições (2).
Se eu verificar que padrões presentes em
casos bem autenticados, se apresentam repetidamente em outros menos bem
autenticados, a minha confiança nas informações contidas nos últimos será
aumentada.
Procurarei, então,estudar o maior número de casos que estejam
no início, para delinear padrões e obter inferências de todo o material
disponível. Por outro lado, se tal análise não demonstrar padrões significantes
análogos entre os mais e os menos bem autenticados, terei uma base para futuras
discriminações no estudo desses factos.
(2) H. Hart. Six Theories About
Apparitions. Proceedings S.P.R. Vol. 50, 1956, 153-239.
Continuarei,
igualmente, a esforçar-me por avaliar os casos deste tipo, tentando o seu
enquadramento nas várias teorias que concorram para seu esclarecimento, e
procurando conceber novas teorias nas quais os dados se ajustem melhor do que
nas hipóteses correntes.
Prosseguirei tentando imaginar e descrever
casos ideais que, se encontrados, permitirão julgamentos definitivos entre
teorias rivais, buscando, também, encontrar e estudar tais casos
cruciais.
II PARTE
UM CASO SUGESTIVO DE REENCARNAÇÃO ENTRE OS
ÍNDIOS TLINGITS DO SUDOESTE DO ALASCA
INTRODUÇÃO
Os índios
Tlingit (3) que habitam uma grande parte do Sudeste do Alasca acreditam na
reencarnação, e essa crença constitui um importante aspecto do seu comportamento
religioso e social.
Outras tribos nativas de outras partes da América do
Norte e do Sul têm tido essa mesma crença na reencarnação, mas somente no
extremo Noroeste da América do Norte essa crença se transformou num sistema
coerente de ideias(4).
Os povos circunvizinhos dos Tlingits, como os
Haidas, que vivem ao sul dos Tlingits, no Sudeste do Alasca e em Queen Charlotte
Islands, na Colúmbia Britânica; os Tsimsyans (5) que habitam na costa da
Colúmbia Britânica a leste dos Haidas; os Athapaskans ao norte (6); os Esquimós
a noroeste e os Aleutas, a oeste, todos eles crêem na reencarnação. Restringirei
este relato (quase inteiramente) às concepções dos Tlingits sobre a reencarnação
e aos casos sugestivos de reencarnação entre eles.
Entre os Tlingits,
como entre quaisquer outros povos, as ideias baseadas no conhecimento da
reencarnação influenciam a atitude para com os indivíduos que alegam lembrar-se
de uma vida anterior, e podem mesmo ser relevantes para a ocorrência de tais
casos.
Antecedi, portanto, os relatos dos casos, com uma apresentação
das ideias dos Tlingits sobre a reencarnação e sobre certos outros tópicos a ela
relacionados.
As informações históricas sobre o Alasca iniciam-se em
1741, com a visita àquele território do navegante dinamarquês Vitus Bering.
Depois de Bering vieram outros exploradores, como James Cook, e, posteriormente,
muitos comerciantes, os quais apreciavam as peles de lontras que os indios
capturavam e lhes vendiam.
Contudo, as culturas ocidentais pouca
intervenção tiveram na região, até a fundação dos fortes russos e dos postos
comerciais, nas últimas décadas do século XVIII.
(3) Pronuncia-se
mais ou menos "Klin-gít", mas a primeira consoante aproxima-se mais do "ch"
alemão (ex.: achtung) ou escocês (ex.: loch) do que do 'k" inglês.
Os
nativos do Sudeste do Alaska eram chamados "Kolush" pelos russos (francês:
Koloche).
(4)Os Incas do Peru acreditavam na reencarnação, porém no mesmo
corpo carnal, não em outro. Sua crença parecia-se um tanto com a dos antigos
Egípcios e, de modo semelhante, levou à prática da mumificação do corpo físico
após a morte. Em contraposição, os Tlingits do Alasca, que acreditavam na
reencarnação em outro corpo, cremavam os cadáveres até que os missionários
suprimiram essa prática, no século XIX.
Contudo, alguns esquimós do
Sudoeste do Alasca praticavam mumificação (no século XIX) e também acreditavam
no renascimento num novo corpo físico.
(5) M. Barbeau. Comunicação
pessoal, 1962. O Dr. Barbeau declara que teve conhecimento da crença na
reencarnação entre os Tsimsyans, durante suas investigações na Colúmbia
Britânica, mas ainda não publicou seus dados. Há uma alusão ao renascimento em
um dos textos publicados pelo Dr. Barbeau (Tsimsyan Miths. Ottawa: National
Museum of Canadá Bulletin Nº174, Anthropological Series Nº51/1961).
(6)
Frederica De Laguna. Comunicação pessoal, 1962. Em 1965, confirmei isto,
encontrando casos típicos de reencarnação entre os Athapaskans e Haidas, no
Alasca.
Os Tlingits lutaram ferozmente com seus vizinhos e
valentemente resistiram aos seus conquistadores.
Os russos, que governaram o Alasca
aproximadamente de 1780 a 1867, nunca os dominaram completamente, embora
tivessem mantido com eles relações comerciais satisfatórias.
Os Tlingits
dominaram as tribos circunvizinhas e obrigaram as do interior a pagar-lhes um
tributo por seus negócios com os russos. Sob o domínio dos americanos, os
Tlingits continuaram firmemente independentes por muitos anos, nunca consentindo
que o governo os confinasse em reservas.
Os Tlingits demonstram uma
atitude igualmente intransigente em relação a tentativas de influência sobre sua
vida religiosa. Cremavam seus mortos e por muito tempo resistiram aos esforços
dos missionários cristãos em ensinar-lhes a enterrar os corpos em sepulturas.
Contudo, sua religião foi gradualmente sucumbindo, de modo que hoje em
dia quase todos eles nominalmente professam o Cristianismo. Mas muitos Tlingits
continuam a crer no mundo dos Espíritos. Têm ocorrido acusações de feitiçaria
mesmo nos últimos anos.
Persistiu também a crença na reencarnação e a
maioria dos Tlingits mantém-na mais ou menos intensamente.
Origem dos
Tlingits
Os antropólogos concordam em que a espécie humana se desenvolveu
no Hemisfério Oriental e que os ancestrais dos nativos pré-colombianos da
América emigraram da Ásia.
De modo geral estão também de acordo que a
maior parte dessa emigração ocorreu há milhares de anos, através do Estreito de
Bering; numa época em que a Ásia e a América eram ligadas por uma grande faixa
de terra, maior do que o actual estreito. (7)
Posteriormente, os
etnologistas acordaram sobre quais foram as últimas tribos a emigrarem da Ásia:
acredita-se (embora não seja totalmente aceite), que os ancestrais dos índios da
costa Noroeste da América, inclusive os Tlingits, foram os últimos emigrantes da
Ásia.
A prova disso advém do facto da arte, a arquitectura, os costumes
e as crenças dos povos do Nordeste da Sibéria assemelharem-se mais estreitamente
aos dos nativos do Noroeste da América do que aos dos de qualquer outra tribo
americana (8).
Embora os entendidos estejam de acordo relativamente aos
ancestrais dos Tlingits e seus vizinhos terem sido os últimos emigrantes da
Ásia, discordam quanto à época em que essas migrações ocorreram e quando
terminaram.
Como essa questão relaciona-se com a crença dos Tlingits na
reencarnação, merece ser aqui analisada.
A maioria dos antropólogos
acredita que as migrações da Ásia e o contacto entre as culturas da Ásia e da
América cessaram milhares de anos antes da Era Cristã. Contudo, dão a idéia de
que persistiu um considerável contacto entre a Ásia e o Noroeste da América em
plena Era Cristã e possivelmente até pouco tempo antes do começo do período
histórico do Alasca, no século XVIII.
A evidência desses últimos
contactos origina-se de várias fontes:
a) Os cânticos fúnebres entoados
pelos índios do Noroeste da América assemelham-se muito às melodias fúnebres da
China e da Mongólia. Uma palavra, "Hayu", entoada repetidamente numa música
fúnebre de uma tribo de índios do Noroeste é também proferida por cantores de
música fúnebre na China e significa "Alas" (Ai!) em chinês. (9, 10).
b)
Outra demonstração de pesar entre os índios do Noroeste, como por exemplo, bater
com a testa no chão, também aparece na China. Tambores cobertos de pele apenas
de um lado são usados para canções desses índios e tambores semelhantes são
utilizados na Sibéria, apenas pelos budistas. (11 )
c) Existem algumas
similitudes entre as línguas do Alasca e da Ásia. Já me referi a uma delas
atrás. Uma outra existe na palavra "shaman", que se aplica, em muitos lugares da
Ásia (e também na Finlândia), a um sacerdote ou feiticeiro, e tem exactamente o
mesmo significado na língua Yakut, do Alasca. (Contudo, a palavra correspondente
a "shaman" em Tlingit é "ichta". ) o vocábulo "shaman" é possivelmente uma
corruptela de "Sramana", que significa Buda e daí, sacerdote budista, em
sânscrito. (12).
d) As ilhas Kurilas, a península Kamchatka e as ilhas
Aleutas formam uma cadeia que se estende pelo Oceano Pacífico Norte, de tal modo
que, com uma excepção, a distância entre duas pontas de terra nunca ultrapassa
cento e sessenta quilómetros; e nessa excepção, entre as ilhas Copper e Attu, a
distância é inferior a trezentos e vinte quilómetros.
e) Nessa região,
do Japão ao Alasca e Colúmbia Britânica, passa a corrente quente japonesa, que
favorece grandemente a navegação entre o Ocidente e o Oriente. Em meados do
século XIX, um junco japonês desmantelado foi levado por essa corrente até à
costa da Califórnia (13). Juncos japoneses têm sido, com mais frequência,
arrastados para as Ilhas Aleutas ( 14 ) .
f) Um manuscrito chinês do
século V a.D. relata as viagens de um missionário budista chinês, o qual
descreve uma viagem que fez a um país existente a grande distância a leste da
China. Esse documento chegou ao conhecimento dos estudiosos ocidentais do século
XVIII, e foi objecto de profundo estudo no século XIX. A descrição que Hwui Shan
fez de sua viagem às terras orientais, as quais chamou de Fusang, levou muitos
estudiosos a crer que ele viajara pela rota do Pacífico Norte, via Kamchatka e
Alasca, chegando por acaso onde é hoje o México. (15, 16).
f)
Diversos objectos de origem oriental têm sido achados em escavações que pela sua
situação, denotam uma acentuada possibilidade de terem sido trazidos da Ásia, em
tempos pré-históricos, embora não muito antes do início dos tempos históricos do
século XVIII.
Esses objectos incluem antigas moedas chinesas e um par de
presas de babirosa (javali selvagem) das Celebes ou de ilhas vizinhas do sul do
Mar da China. Outro desses objectos encontrados em escavações foi uma estatueta
em bronze de Garuda, de um tipo comum em Bengala e no Nepal. É bastante
improvável que essa imagem tenha aparecido na América antes de 1770, mas não
pode ter vindo pela rota Kurilas-Aleutas; navios espanhóis provenientes de
Manila, que cruzassem o Pacífico, nos séculos XVI ou XVII, poderiam tê-la
trazido. (17, 18).
(7) E. Antevs. "The Spread of Aboriginal Man to North
America:" The Geographical Reviw, Vol. 25, 1935. 302/309.
(8) F. Boas.
"Relationships Between North-West America and North-East Ásia", in The American
Aborigines: Their Origin and Antiquity. (Ed., D. Jenness.) Toronto: University
of Toronto Press, 1933.
(9) M. Barbeau. "The Aleutian Rout of Migration Into
America." The Geographical Review, Vol. 35, 1945, 424/443.
(10) M.
Barbeau. Alaska Beckons. Toronto: The Macmillan Company, 1947.
(11)
Ibidem
(12) E.P. Vining. An Inglorious Columbus or, Evidence that Hwui
Shan and a Party of Buddhist Monks from Afghanistan Discovered America in the
Fifth Century, A.D. New York: D. Appleton & Company, 1885
(13)
Ibidem.
(14) C.G. Leland. Fusang, or the Discovery of America by Chinese
Buddhist Priests in the Fifth Century. New York: J.W. Bouton, 1875.
(15)
E.P. Vining. Op. cit., nº 10.
(16) C.G. Leland, Op. cit.,
nº12.
(17) M. Barueau. Op. cit., nº 7.
(18) M. barbeau. Op. cit.,
nº 8.
A Crença na Reencarnação Entre os Tlingits
Sabemos que os
Tlingits não receberam a sua crença na reencarnação através dos europeus,
porquanto pessoas que viajaram ao Alasca, no início do século XVIII, já a
encontraram firmada entre eles.
Assim, Veniaminov, sacerdote russo e
posteriormente bispo no Alasca, faz referência à crença na reencarnação entre os
Tlingits. (19). Veniaminov estudou os Tlingits após o início do comércio entre
os europeus e os nativos do Alasca, mas antes de qualquer outra influência
substancial dos europeus na sua cultura, como a que começou após os missionários
americanos terem-se espalhado pelo Alasca, em meados do século
XIX.
Segundo Veniaminov, "os Tlingits... acreditam que os mortos voltam a
este mundo, porém apenas entre seus parentes...
Por essa razão, se uma
mulher grávida vê frequentemente em seus sonhos um parente morto, ela crê que
esse homem entrou nela; ou, talvez, se descobrirem no corpo do recém-nascido
alguma semelhança com a pessoa morta, como um sinal de nascença ou um defeito
que eles sabiam existir no corpo do finado, passam a crer firmemente que essa
mesma pessoa retornou à terra e, por essa razão, dão à criança o nome do morto."
(20)
Um antropólogo francês, Pinart, referiu-se à crença da reencarnação
entre os Tlingits ou Koloches, em 1872. (21) Chamou a atenção para o facto de
que, embora os Tlingits geralmente achem que a reencarnação se dá em outra forma
humana, acreditam também na transmigração de uma espécie animal a outra. (22)
Pinart escreveu: "Frequentemente acontece que, se uma mulher grávida vê
em sonhos algum parente falecido há muito tempo, dirá que esse mesmo parente
retornou no corpo dela e que ela o porá de novo no mundo.", (23)
Pinart
focou também a existência, entre os esquimós ocidentais (do Alasca), de um
sistema religioso muito mais elaborado. Este apresentava um Céu com cinco planos
ascencionais, a serem atingidos, cada um deles, após sucessivas encarnações na
Terra, e tendo presente as ideias da transformação, purificação gradual e,
posteriormente, libertação do ciclo dos renascimentos.
Pinart achou
essas crenças muito semelhantes às da Ásia. (24)
No final do século XIX
(1885), o etnólogo alemão Krause escreveu um extenso relato sobre os costumes e
crenças dos Tlingits (25). Ele observou a crença na reencarnação entre os
Tlingits e os Haidas, mas parece não ter dado muita importância ao assunto; nas
suas referências baseou-se quase exclusivamente em Veniaminov.
Vinte
anos mais tarde (1904), Swanton, etnólogo americano, dedicou grande atenção ao
assunto. No seu relatório sobre os Tlingits, Swanton refere uma história, que em
seu tempo teve larga repercussão entre os Tlingits, e da qual ouvi uma versão em
1961. Cito a narração feita por Swanton: "Em certa guerra, um homem foi morto e
subiu para Kiwaa (uma região do céu tlingit), pouco tempo depois, uma mulher do
seu clã deu à luz uma criança. Um dia, quando alguém estava a falar sobre essa
guerra, a criança pôs-se a chorar persistentemente e disseram-lhe: "Fica quieta.
Por que estás a chorar? Por que choras tanto?"
Então a criança retrucou:
"Se você tivesse feito o que mandei e tivesse esperado primeiro a maré baixar
teríamos destruído toda aquela gente." A criança era o mesmo homem que havia
sido morto
Por seu intermédio souberam que havia tal lugar e que as
pessoas que morreram violentamente estiveram lá... (26).
(19) I.E.P.
Veniaminov. Reports About the Islands of the Unalaska Districts. St. Petersburg:
Imperial Academy of Sciences, 1840.
(20) Ibidem. Vide pag. 58. (Traduções
da Sra. O. Podtiaguine.)
(21) A. Pinart. "Notes sur les Koloches.
"Bulletins de la Sociéte d'Anthrpologie de Paris, Vol. 7, 1872.
788/811.
(22) Porém Veniaminov, escrevendo trinta e cinco anos antes,
categoricamente negou que os Tlingits acreditassem na transmigração da alma
humana para corpos de animais. Antropólogos mais recentes também não relataram
tal crença. Os Tlingits têm, na verdade, muitas lendas de transformação de seres
humanos em animais, como homem em urso, mas estas diferem da ideia de
renascimento em um novo corpo quer animal quer humano.
(23) A. Pinart.
Op. cit., n° 19. Vide pág. 803.
(24) A. Pinart. "Esquimaux et Koloches:
Idées Religieuses et Tradition des Kaniagmioutes." La Revue D'Anthropologie,
Vol. 4, 1873, 674/680.
(25) A. Krause. Die Tlingit Indianer. Jena:
Hermann Costenoble. 1885. Edição americana (Traduzido por Erna Gunther).
Seattle: University of Washington Press, 1956.
(26) John R. Swanton
"Sociall Condition, Beliefs and Linguistic Relationship of the Tlingit Indians."
No 26º Annual Report of the Bureau of American Ethnology. (1904/05). Washington:
Government Printing office, l908, 391/485.
Swanton notou, como havia
feito Veniaminov, a atenção que os Tlingits davam a marcas de nascença, como
sinais de reencarnação. Um de seus informadores declarou que "se uma pessoa com
um corte ou cicatriz no corpo morresse e reencarnasse, a mesma marca poderia ser
observada na criança."
De Laguna resumiu as ideias dos Tlingits sobre a
reencarnação, especialmente na parte em que estas afectam as relações sociais e
as complexidades que ocorrem, quando uma família acredita que um membro falecido
de uma geração retornou numa geração posterior. (27)
A crença dos
Tlingits na reencarnação não é de maneira alguma tão desenvolvida quanto as
doutrinas sobre o mesmo assunto no Hinduísmo e no Budismo. Mas abrange o
conceito de carma (embora não chamado assim), e a expectativa de que os
infortúnios de uma vida poderão diminuir numa outra.
A esse respeito,
Pinart escreveu o que segue: "É comum ouvir um homem doente ou um pobre dizer
que deseja ser morto, de modo a poder voltar a uma vida jovem e saudável. Uma
das razões da extraordinária bravura dos Koloches (Tlingits) é sua falta de
temor à morte.
Ao contrário, eles a buscam, fortalecidos pela esperança
de logo retornarem ao mundo numa situação melhor." (28) .
Veniaminov
relatou que "Os pobres que observam a melhor condição de vida dos ricos e também
a diferença entre os filhos dos ricos e os seus, frequentemente dizem: "Quando
eu morrer, com toda certeza voltarei na família de fulano ou sicrano", indicando
a família de sua preferência. Outros dizem: "Oh, como seria bom eu morrer logo.
Então eu voltaria outra vez e dentro de muito menos tempo."
(27)
Frederica De Laguna. "Tlingit Ideas About the Individual." Southwestern Journal
of Anthropology, Vol. 10, 1954, 172/191.
(28) A. Pinart. Op. cit., nº 19.
Vide pág. 803. (Minha tradução) .
Num dos casos, um homem idoso
manifestou o desejo de que sofresse menos de gagueira na sua próxima existência.
E num outro caso (não referido detalhadamente aqui), um pobre pescador, que se
sentira muito tolhido pelo facto de não conseguir falar inglês, declarou antes
de morrer que cultivaria o conhecimento de línguas em sua vida seguinte.
A pessoa da geração seguinte com a qual foi posteriormente identificado
possui, na verdade, muita habilidade e interesse por línguas, e aprendeu não
apenas o inglês, mas também o russo e o alêuta, que falava tão bem quanto o
tlingit.
Além da crença na reencarnação propriamente dita, e do conceito
de carma ligando uma vida a outra, os Tlingits possuem duas outras concepções
significantes relativas à reencarnação. Primeiro, os Tlingits acreditam que as
crianças que se lembram de suas vidas pregressas são fadadas a morrer cedo, e
procuram desencorajar a criança que afirme lembrar-se de uma vida anterior, de o
fazer.
Idêntica crença existe na Índia, Burma e Ceilão, onde as famílias
de tais crianças frequentemente fazem grandes esforços no sentido de anularem
aparentes lembranças de uma vida anterior, reveladas pelas crianças.
Segundo, os Tlingits também acreditam no renascimento, em contraposição
à reencarnação. De acordo com a concepção de renascimento, a personalidade velha
dá origem à nova, como uma vela que está se extinguindo pode acender uma outra
vela, e assim sucessivamente.
Na reencarnação, por outro lado, a mesma
personalidade continua, embora alterada pelas circunstâncias da nova vida. A
reencarnação assim definida é um conceito do Hinduísmo e o renascimento do
Budismo.
O Budismo, que se iniciou na Índia no século VI a.C.,
atingiu a China no século I a.D., e a Coreia em 372 a.D. (29, 30). Espalhou-se
pelo Japão no século VI, e posteriormente alcançou a Mongólia e a Sibéria até
Kamchatka.
Se o Budismo se estendeu, ou não, ao Alasca, não o podemos
dizer com certeza. Mas acho essa possibilidade bastante plausível. Já examinei
acima, de forma sucinta, as provas exteriores do contacto entre a Ásia e o
Noroeste da América, depois da criação do Budismo, e antes dos tempos históricos
(i. e., 500 a.C.-1.700 a.D.)
Essas provas geram atenção, embora não
convicção. A íntima semelhança entre as idéias de reencarnação entre os Tlingits
e os Budistas também sugere que os ancestrais dos Tlingits importaram, e não
inventaram suas ideias sobre a reencarnação, interpretação que Pinart insinua ao
comentar a semelhança das ideias dos Esquimós a respeito do céu com aquelas
encontradas na Ásia.
O aparecimento de missionários e de escolas no
Alasca, no final do século XIX, iniciou o declínio da cultura Tlingit. Primeiro
as lutas com lanças, em seguida a cremação dos mortos, e finalmente as
"potlatches" (festas rituais) sucumbiram à persuasão religiosa e ao controlo
governamental.
Um dos últimos velhos entalhadores de totens, e um dos
poucos artesãos vivos capaz de representar as lendas de seu povo nesses
maravilhosos monumentos, mostrou-me seu trabalho no Alasca e deplorou o facto de
a geração mais nova (ele tinha setenta e dois anos) nada saber sobre
reencarnação e ter deixado de dar atenção às marcas de nascença nos
recém-nascidos, as quais, se percebidas, indicariam quem renasceu.
Isto
porque a crença na reencarnação está desaparecendo entre os Tlingits, e pode-se
notar uma gradação descendente da crença proporcional à idade. A geração das
pessoas com mais de sessenta anos crê plenamente na reencarnação e as dúvidas
dos mais jovens escandalizam-nos.
A outra geração, a das pessoas entre
as idades de trinta e sessenta, tem conhecimento da crença na reencarnação
entres os Tlingits, e muitos (a maioria talvez) acreditam nela, embora
frequentemente com algumas dúvidas de monta.
Na geração mais jovem,
encontrei frequentemente escárnio ou ignorância com referência à reencarnação.
Conheci um Tlingit estudante, que havia ouvido falar sobre reencarnação na
Índia, mas não no Alasca, entre seu povo!
(29) E.P. Vining, Op. cit., nº
10.
(30) C. Humphreys. Buddhism. Harmondsworth: Penguin Books,
1951.
Embora a maioria dos meus informadores falassem livremente sobre o
seu conhecimento de casos ou sobre as crenças dos Tlingits, encontrei algumas
pessoas que se mostraram reticentes em discutir tais assuntos.
Essa
reserva contrastou marcantemente com a quase universal naturalidade com que o
povo da Índia falou sobre a reencarnação, durante idênticas investigações
naquele país.
A diferença pode originar-se da maior rapidez de
aculturação ocidental no Alasca, onde a pressão das religiões e das ciências
ocidentais colocou aqueles que ainda conservam as antigas religiões tribais na
defensiva em relação a estas.
O Tlingit pode temer que suas ideias sobre
reencarnação provoquem críticas ou sejam objecto de menosprezo por parte de
outros. Ao contrário, as religiões ocidentais produziram apenas um ligeiro
impacto na Índia e, embora esta conte com alguns miIhões de cristãos, a crença
na reencarnação provavelmente permanece tão sólida na Índia actual, como o era
há cinco mil anos atrás.
Contudo, outras razões podem explicar a reserva
dos Tlingits, referentemente à reencarnação. Alguns deles ainda crêem, mais do
que outras gerações, que advém infortúnio ao Tlingit que falar sobre sua
religião com pessoas de fora.
Finalmente, razões de ordem pessoal sem
dúvida justificam algumas inibições em falar acerca de casos particulares.
Muitas das personalidades anteriores, ligadas aos pacientes, morreram violenta
ou misteriosamente, ou ambas as coisas, e os informadores pareceram relutantes
em referir-se a tais factos ou a causas de antigas contendas entre os clãs, nas
quais ocorreram algumas dessas mortes.
Métodos de Investigação
Em
1961/65, visitei o Sudeste do Alasca quatro vezes com o objectivo de estudar
casos sugestivos de reencarnação entre os índios Tlingits.
Durante estas
minhas viagens, estive em dez comunidades habitadas por índios Tlingits, a
saber: Juneau, Klukwan, Sitka, Hoonah, Wrangell, Petersburg, Angoon, Anchorage,
Kake e Ketchikan.
Ao todo, levei cinco semanas, estudando casos
tlingits, em primeira mão.
Como na introdução já descrevi os métodos
de investigação utilizados, não os repetirei aqui.
Durante os meus estudos de
tais casos, entrevistei, no total, cerca de cem pessoas, a maioria das quais
foram testemunhas dos factos referentes aos casos aqui relatados, sendo que
algumas foram informadores sobre a cultura dos Tlingits.
Quase todas as
testemunhas falavam inglês, mas necessitei de intérprete para alguns Tlingits
idosos, que falavam somente a sua língua. Na maior parte das vezes, um parente
servia de intérprete; duas vezes, a Srta. Constance Naish, missionária em
Angoon, serviu de intérprete.
Incidências de Casos Relatados Entre o Povo
Tlingit
Além dos sete casos sugestivos de reencarnação relatados aqui,
fiquei sabendo, durante as minhas visitas ao Alasca, de trinta e seis outros
ocorridos entre os Tlingits, e de oito entre os Haidas.
Ainda estou a
investigar alguns deles e planeio um outro relatório descrevendo-os, bem como
certos exemplos discriminados no estudo do grupo maior de casos tlingits.
Não posso, contudo, investigar mais profundamente alguns outros casos
porque a pessoa possuidora da experiência ou outras importantes testemunhas em
primeira mão morreram.
Apesar disso, conversei pelo menos com uma
testemunha directa de cada um desses casos. Dos relatos que me foram feitos dos
mesmos, julgá-los-ia semelhantes a outros, dos quais não pude obter depoimentos
mais completos por parte das testemunhas.
Se juntarmos todos eles,
teremos trinta e três casos relatados entre os Tlingits, ocorridos entre pessoas
nascidas durante o período de 1851 a 1965. Chegamos à convicção de que a
incidência de todos os casos deve ser consideravelmente maior do que a
incidência dos relatados, talvez muito maior.
Isto torna-se uma
conclusão óbvia se reflectirmos no facto de que as informações sobre os quarenta
e três casos acima apontados foram obtidas por um pesquisador entre os Tlingits,
num período menor que seis semanas.
Além do mais, soube ainda de um
outro caso que não tive tempo de examinar, mas que, pelas informações recebidas,
parece assemelhar-se àqueles que pude estudar ou conhecer melhor. Uma
verificação mais completa sem dúvida traria à luz muitos mais casos; porém, de
momento, vou considerar apenas os quarenta e três mencionados acima.
O
primeiro deles entre os Tlingits data de 1851 (ano do nascimento da pessoa que
passou pela experiência de lembrar-se de uma vida anterior). Em 1883, Krause
calculou a população dos Tlingits em mais de dez mil pessoas.
Por
ocasião do censo de 1960, contaram-se 7.887 (31). Entre 1851 e 1965 podemos
calcular que houve umas quatro gerações de não mais de 40.000 Tlingits. Isso
apresenta uma incidência de casos relatados entre esse povo, de quarenta e três
em 40.000, ou aproximadamente um em l000.
Assim, a cifra a que se chegou
(que, como dissemos acima, deve ser um número mínimo) apresenta uma incidência
muito mais alta desses casos do que em outras áreas culturais do Ocidente.
Numa base comparativa, muitos milhares de casos sugestivos de
reencarnação devem ter ocorrido no resto dos Estados Unidos, durante os anos de
1851 a 1965. Mesmo admitindo o facto de que muitos casos sugestivos de
renascimento dos Estados Unidos não se tornem conhecidos dos investigadores, a
incidência dos mesmos nos Estados Unidos continental não deve ser provavelmente
tão elevada quanto o é no Sudeste do Alasca. (32).
(31) Dados
fornecidos pelo "Bureau of Vital Statistics, Department of Health and Welfare",
Estado do Alasca. A cifra inclui um pequeno número de indígenas não
Tlingits.
(32) Cifras semelhantes de casos relatados provêm de outras
áreas, como do Sudeste da Turquia, Líbano, Índia e Ceilão, onde a incidência de
casos parece também grande. Eventualmente, será possível estudar-se as relações
entre as várias culturas e a incidência de casos relatados, e esse estudo poderá
fazer luz sobre a razão das diversas incidências nas diferentes
culturas.
RELATÓRIO
Caso de Jimmy Svenson
Sumário
A
mãe de Jimmy Svenson (33) é de raça pura tlingit e seu pai é meio tlingit e meio
norueguês. Jimmy nasceu a 22 de novembro de 1952, em Sitka.
Quando tinha
cerca de dois anos, começou a falar sobre sua vida anterior, dizendo que havia
sido irmão de sua mãe e tinha morado na aldeia de Klukwan.
Esta é uma
aldeia a cento e sessenta quilómetros de distância. Fez uma série de afirmações
concernentes a assuntos que seu tio poderia ter sabido, mas que parecia
improvável que Jimmy tivesse conhecido por meios normais.
Com
frequência, geralmente quando zangado, pedia para ir para a aldeia de Klukwan
para ficar com sua avó materna. Jimmy falou continuamente sobre sua existência
anterior durante aproximadamente dois ou três anos, e daí em diante suas
referências nesse sentido diminuiram.
Aquando da minha investigação deste
caso, no Outono de 1961, Jimmy (então com menos de nove anos de idade) não
alegava mais lembrar-se de qualquer coisa acerca de sua vida anterior.
Portanto, tive conhecimento do que ele havia dito e feito anteriormente,
através de entrevistas com sua mãe, pai, um irmão, duas irmãs e outros membros
da família materna. Antes de narrar o que esses vários informadores me disseram,
mencionarei alguns factos relevantes sobre a vida e morte do falecido John Cisko
(tio de Jimmy) e as suposições de como ele encontrou a morte.
(33)
Conforme foi dito anteriormente, ocultei os nomes das pessoas que passaram pelas
experiências e que testemunharam os acontecimentos narrados, usando
pseudónimos.
John Cisko era um índio Tlingit de raça pura que, como
muitos da tribo, gostava de caçar e pescar, no que demonstrava grande
habilidade. Bebia álcool em excesso , especialmente vinho.
Por ocasião
de sua morte, no verão de 1950, quando tinha cerca de vinte e cinco anos, estava
no exército e voltara ao Alasca em licença. Permaneceu numa das numerosas
aldeias pesqueiras de salmão e de fábricas de conserva da região.
Um dia
saiu num pequeno barco com duas mulheres a dar um passeio. Várias horas depois o
barco foi encontrado empinado na praia com o motor no lugar e sem o tampão do
fundo. Esses indícios faziam supor que o barco se havia enchido de água, talvez
rapidamente e antes que seus ocupantes, (provavelmente) embriagados, se
apercebessem do perigo.
Algumas pessoas encontraram nas imediações os
cadáveres das duas mulheres afogadas, mas jamais conseguiram recuperar o corpo
de John Cisko. Nos canais do Sudeste do Alasca as marés sobem muito e as
correntes são rápidas. Um baixa-mar pode arrastar um corpo rapidamente e para
sempre. Essas circunstâncias tornam um homicídio bastante fácil, frequentemente
insuspeitável, e extremamente difícil de ser provado.
Hans, um irmão de
John Cisko declarou-me que estava convicto de que um amante ciumento de uma das
mulheres, que acompanhavam John, o havia assassinado.
Hans ouvira dizer
que uma testemunha vira o homicídio, mas que não quis falar sobre o assunto por
temer represálias por parte do criminoso.
Um outro Tlingit que trabalhava
para a mesma fábrica de salmão enlatado no verão de l950, como capitão de um
barco pesqueiro, disse-me que achava o homicídio uma explicação improvável para
a morte de John Cisko.
O capitão considerava mais provável que o mesmo
tivesse se afogado depois de manter-se agarrado ao barco inundado tanto quanto
pode, e que a maré havia transportado o seu corpo, embora não tivesse arrastado
os das suas companheiras.
A irmã de John Cisko, Millie, tinha-lhe grande
afeição e lamentou muitíssimo a sua morte. Ela queria dar ao próximo filho que
nasceu dois anos mais tarde, o nome de John, mas foi dissuadida disso porque
esse nome já era muito frequente na família do marido.
Assim, ela e o
esposo deram ao menino o nome de John como um segundo nome, de modo que ele se
chamou James John Svenson.
Jimmy tinha quatro sinais redondos no abdomén,
os quais examinei em 1961. Sua mãe declarou que essas marcas existiam quando ele
nasceu. Em 1961 tinham cerca de seis milímetros de diâmetro e eram claramente
destacadas da pele circundante.
Três tinham menos pigmentos do que a
pele em redor, e uma tinha um maior número de pigmentos. Três estavam a altura
das costelas inferiores direitas, acima do fígado; a quarta encontrava-se cerca
de cinco centímetros à direita do umbigo.
Os sinais pareciam-se muito
com os de ferimentos de bala.
Dado que vários informadores com quem
conversei se lembravam de diferentes declarações feitas por Jimmy, relacionei
todas essas afirmações a ele atribuídas no quadro adiante, com comentários de
sua verificação feitos pelos informadores.
Testemunhas secundárias
relataram outros detalhes de informação fornecidos por Jimmy a sua família. De
acordo com esses informadores, Jimmy já havia falado a esses parentes sobre
pormenores específicos da vida em Klukwan, como por exemplo: as características
e hábitos do cachorro da familia e detalhes da casa em que John Cisko residira
em Klukwan.
Estes eram supostos elementos de informação conhecidos de
John Cisko, mas sem probabilidade de que fossem do conhecimento de Jimmy
Svenson, através de meios normais. Contudo, quando perguntei aos principais
informadores sobre esses factos, eles negaram ter deles qualquer lembrança.
Omiti-os portanto, na lista acima. Uma vez que duas testemunhas
secundárias concordaram em que tiveram conhecimento deles através de um membro
da família, isto pode nos dar um exemplo de enfraquecimento, com o passar do
tempo, da lembrança dos detalhes pelas testemunhas principais.
Ou então,
de que as testemunhas secundárias talvez tenham retocado a história que
originalmente ouviram.
Comentários.
Os membros da família de Jimmy
forneciam informações sobre as suas declarações, muito relutantemente. Tive a
impressão de que os informadores retinham dados que conheciam e que também
haviam esquecido factos que antes sabiam.
Acredito que os nove itens
que relacionei representam uma versão abreviada da história original, em vez de
uma versão ampliada. Devemos entretanto considerar a história como ela é, e não
como seria se melhores testemunhas e investigadores precedentes a tivessem
observado.
Tomada como é, o máximo que podemos dizer dela é que se
harmoniza com a reencarnação, mas não apresenta uma evidência de monta a esse
respeito.
O caso padece de duas sérias deficiências que diminuem o seu
valor comprovativo relativamente à reencarnação. Em primeiro lugar, Jimmy não
fez qualquer declaração que não pudesse em absoluto ter obtido normalmente.
Talvez tivesse se aproximado disso (nas provas que temos) quando alegou
que costumava beber vinho. Nos restantes dados encontramos insinuações de
conhecimento paranormal, como na descrição do lago próximo a Klukwan, mas nada
que possamos categoricamente afirmar como tal.
O caso se tornaria bem
diferente se uma testemunha fidedigna declarasse que havia visto John Cisko ser
morto com tiros no estômago. Pareceria, então, que pessoas mortas podem, na
verdade, contar histórias.
Mas John Cisko não o fez de maneira clara
ainda (34).
Um segundo e igualmente grave defeito deste caso, com relação
ao seu valor provante da reencarnação, surge do facto de que tanto John Cisko
quanto Jimmy Svenson pertenciam à mesma família e eram parentes, como irmão e
filho da mesma senhora.
Na realidade, Jimmy Svenson mora numa cidade a
cento e sessenta quilómetros de Klukvan, mas cresceu em companhia de sua mãe,
que amava John Cisko como seu irmão favorito.
Ela o pranteou muito e deu
o nome dele ao filho que teve após a sua morte. E, uma vez que ela acredita na
reencarnação, bem pode ter falado sobre seu irmão ao filho e assim ter
comunicado a ele os factos que o menino alegou lembrar.
Contudo, como em
muitos outros casos sugestivos de reencarnação, devemos considerar os aspectos
de comportamento bem como aqueles puramente informativos do caso.
(34)
Minha colecção de casos inclui diversos outros exemplos nos quais pessoas que
alegam ter vivido antes, projetaram novas luzes sobre mortes ou homicídios
obscuros. (Vide, por exemplo, o caso de Ravi Shankar)
SUMÁRIO DAS
DECLARAÇÕES, RECONHECIMENTOS E COMPORTAMENTO DE JIMMY
SVENSON
IAssunto Informadores Comentários
1. O seu nome era
John e não Jimmy.
2. Morava em Klukwan (aldeia onde John Cisko
morara).
3. Foi assassinado a tiro (na vida anterior). A mãe de
Jimmy
O pai de Jimmy
A irmã mais nova de Jimmy
O pai de
Jimmy
A mãe de Jimmy
Não referido pela mãe de Jimmy, que
entretanto, salientou o contínuo desejo de Jimmy ir para Klukwan.
A
mãe disse e Jimmy acrescentou: "Pelo capitão." O pai disse e Jimmy acrescentou:
"No estômago", e apontou para seu estômago ao declarar isso. A primeira
afirmação está de acordo com os sinais de nascença no abdómen de Jimmy, mas a
forma exacta da morte de John Cisko é desconhecida.
4. Falou muito de
Klukwan e frequentemente dizia que queria ir lá para visitar sua avó (mãe de
John Cisko).
5. Fez uma descrição exacta de um dos lagos próximo a
Klukwan.
6. Disse que costumava beber
vinho.
7. Disse ao seu tio: "Não sou seu
sobrinho, sou seu irmão." (Com a idade de seis anos).
8.
Familiaridade com a aldeia de Klukwan e área circunvizinha, quando foi levado
lá; com a idade de seis anos e meio.
9. Insistentes rogos para ir pescar
com um parente vizinho, quando ele (Jimmy Svenson) visitou Klukwan.
O
irmão de Jimmy
A irmã mais nova de
Jimmy
O pai de
Jimmy
Hans Cisko, irmão de John Cisko, tio de
Jimmy Svenson
A mãe de Jimmy
A
mãe de Jimmy e o parente com quem Jimmy queria ir pescar.
Jimmy tinha
visto sua avó quando era bebé, mas não estivera em Klukwan antes dos seis anos e
meio de idade.
Detalhes da descrição não
fornecidos.
John Cisko costumava beber vinho em excesso.
James Svenson Sr., meio-norueguês, nunca tinha vinho em casa, somente cerveja. A
mãe de Jimmy disse que este declarara ter bebido "whisky" (não vinho) "há muito
tempo atrás."
O informador insistiu em que essa observação foi bastante
espontânea e livre quando, ao sair (após sua primeira visita à família Svenson)
ele disse a Jimmy: "Bem, até logo, sobrinho."
Nenhum detalhe de
conhecimento específico foi lembrado. Jimmy simplesmente parecia estar
invulgarmente familiarizado com pessoas e lugares da
região.
Confirmado a mim pelo parente em questão. Esse homem
havia sido amigo íntimo e companheiro de pescaria de John Cisko. Outros parentes
(excepto a avó materna de Jimmy) estavam fora da aldeia quando ele visitou
Klukwan. Esse "companheiro de pesca" era o único parente à disposição para um
possível reconhecimento por parte de Jimmy.
Por exemplo Jimmy não
apenas asseverou conhecer Klukwan, mas, quando zangado com os pais, pedia para
ir para lá ficar com sua avó materna (a mãe de John Cisko).
Em suma,
Jimmy não só parecia saber a respeito de John Cisko; mas também agia como se ele
e John Cisko fossem a mesma pessoa. Agora, como a mãe de Jimmy desejava que o
seu irmão retornasse, ela pode ter imposto a ele uma identificação com seu
falecido irmão.
Contudo, devo chamar a atenção para um dos pontos fracos
da teoria de "identificação imposta", no caso presente. Na minha opinião, ela
deixa de explicar satisfatoriamente o enfraquecimento de personificação da
personalidade, à medida que a idade da criança vai aumentando.
Observamos comumente em casos sugestivos de reencarnação que, conforme a
criança cresce, a sua lembrança da vida anterior e a simultânea identificação
com a outra personalidade diminuem. No caso de Jimmy Svenson, as lembranças
aparentes começaram a enfraquecer quando ele tinha quatro anos, e já teriam sido
completamente esquecidas quando eu conversei com ele, quando tinha nove anos.
Se adoptarmos a teoria de identificação imposta para este caso, devemos
admitir que, quando Jimmy tinha quatro anos, a sua mãe aceitou a ideia de que
ele desenvolvesse uma outra personalidade que não a de seu irmão John Cisko.
Então, a partir dessa época, a personificação de John Cisko e a
pseudo-lembrança, que existiriam nesta hipótese, regrediriam em poucos anos. O
afrouxamento de pressão por parte da mãe de Jimmy seria compatível com a
diminuição, através dos anos, da sua mágoa pela morte do irmão.
Mas, em
casos em que pressões inconscientes, por parte de um pai ou mãe, fomentaram o
desenvolvimento de um determinado sintoma ou comportamento na criança, o sintoma
não regrediu com o correr do tempo nem diminuiu no pai ou mãe o desejo de que a
criança tivesse tal comportamento.
Essa falta de diminuição de
intensidade de um sintoma imposto pode-se originar do facto de o desejo que o
promove ser não só intenso, como inconsciente, por parte do pai ou
mãe.
Não creio que possamos chegar a uma conclusão segura sobre este
caso, de momento. A reencarnação poderia explicar o comportamento da criança
como também o poderia explicar a teoria da "identificação imposta".
A
evidência de paranormalidade do caso não vai além de insinuações; por outro
lado, a teoria de "identificação imposta", aplicada ao caso, torna-o um exemplo
que transcende a influência previamente demonstrada pelos pais sobre as
crianças. Os factos de que dispomos não nos permitem escolher entre estas duas
possibilidades.
O Caso de William George Jr.
Sumário
Este
caso inclui uma predição de renascimento feita antes da morte e o aparente
cumprimento dos testes propostos.
Coaduna-se com o tipo de renascimento
descrito por Veniaminov (35) no sentido do renascimento ter sido anunciado num
sonho da mãe, e revelado por sinais físicos que se assemelhavam aos do homem
falecido, que aparentemente retornara.
1º - Descreverei o caso
resumidamente e depois apresentarei, em forma de tabela, as declarações das três
testemunhas que entrevistei.
William George, Sr. foi, no seu tempo, um
famoso pescador do Alasca. Como outros Tlingits, acreditava na reencarnação. No
fim da vida, passou a ser assaltado por dúvidas, e alimentava também o grande
desejo de retornar. Em várias ocasiões, disse ao seu filho predileto (Reginald
George) e à sua nora: "Se esse negócio de renascimento for verdadeiro, voltarei
e serei filho de vocês".
Declarou isso diversas vezes, acrescentando: "E
vocês irão reconhecer-me porque terei marcas de nascença semelhantes às que
tenho agora" E, dizendo isto, apontava para dois proeminentes nevos pigmentados
de cerca de meia polegada de diâmetro, um na superfície superior do ombro
esquerdo e o outro na face interna do antebraço esquerdo, a umas duas polegadas
abaixo da articulação do cotovelo.
No verão de 1949, William George Sr.
então com cerca de sessenta anos de idade, expressou novamente a intenção de
retornar depois da morte, entregando nesta ocasião, ao seu filho predilecto, um
relógio de ouro, que lhe fora dado por sua mãe.
Ao fazê-lo, disse: "Eu
voltarei. Guarda-me este relógio. Vou ser teu filho. Se existir tal coisa
(referindo-se ao renascimento), eu o farei." Reginald George foi passar um fim
de semana em casa, pouco tempo depois, e deu o relógio de ouro à sua mulher,
Susan George, contando-lhe o que o pai lhe havia dito.
Ela pôs o relógio
numa caixa de jóias, onde ficou guardado durante uns cinco anos.
No
princípio de Agosto de 1949, poucas semanas após os acontecimentos acima,
William George Sr. desapareceu do barco de pesca de arrastão, do qual era
capitão. Membros da tripulação nada sabiam quanto ao que Ihe sucedera, e os que
o procuraram nunca encontraram o seu corpo.
Possivelmente caira ao mar e
a maré o carregara para longe, como pode fácilmente acontecer naquelas
águas.
(35) I.E.P. Veniaminov. Op. cit., nº 17. Para mais detalhes e
exemplos, tanto de sinais de nascença como de sonhos proféticos, entre os casos
Tlingits do tipo reencarnação vide: I. Stevenson, "Cultural Patterns In Cases
Suggestive of Reincarnation Among the Tlingit Indians of Southeastern
Alaska."
A Sra. Reginald George, sua nora, pouco tempo depois engravidou
e deu à luz no dia 5 de maio de 1950, apenas nove meses depois da morte do
sogro. A criança foi o nono dos seus dez filhos. Durante o parto, ela sonhou que
o sogro lhe aparecera e dissera que estava à espera para ver o seu filho.
Parece que, nesta ocasião, a Sra. George não ligou essa visão onírica
com o renascimento do sogro, porque, quando acordou da anestesia, ela estava
assustada e esperava ver o sogro, talvez como uma aparição com sua forma adulta
anterior, como o vira no sonho.
Mas o que realmente viu foi uma
desenvolvida criança do sexo masculino, que tinha nevos pigmentados na
superficie superior do ombro esquerdo e na face interna do antebraço esquerdo;
nas regiões exactas dos nevos mencionados pelo avô do menino.
Os sinais
de nascença da criança tinham mais ou menos metade do tamanho dos do seu avô. A
identificação dessas marcas de nascença fez com que os pais da criança Ihe
dessem o nome do avô, e assim ele se tornou William George
Júnior.
William George Jr. teve uma pneumonia grave com a idade de um
ano. Não começou a falar senão aos três ou guatro anos, porém, com uma gagueira
bem acentuada, que desapareceu nos anos seguintes, conquanto seu pai, Reginald
George, em 1961, ainda mostrasse muita preocupação com o defeito do menino.
William George Jr. parece ter inteligência média, a julgar pelo seu
aproveitamento na escola e a conversa que mantive com ele no Alasca.
À
medida que ele foi crescendo, a família de William George Jr. observou nele um
comportamento que reforçou sua convicção de que Wiiliam George Sr. havia
retornado.
Esse comportamento abrangia várias grupos de características.
No primeiro grupo verificavam-se os gostos, as aversões e as aptidões
semelhantes às do avô.
Por exemplo, William George Sr. tinha machucado
gravemente o tornozelo direito, quando jogava à bola, em moço. Depois disso
passou a coxear e virava o pé direito para fora, de modo que caminhava com andar
definidamente característico. William George Jr. tem um andar idêntico, e vira o
pé direito para fora, quando caminha.
Seus pais testaram isso e eu
também observei, vendo como William George Jr. andava. No menino, contudo, a
anormalidade do andar não é marcante, e duvido que eu a tivesse percebido se não
me houvessem chamado a atenção para o facto.
Membros da familia notaram
também semelhanças nos traços faciais e na postura, entre William George Jr. e o
avô. William George Jr. parece-se com o avô na tendência à irritabilidade e a
dar conselhos de advertência aos que o cercam.
Demonstra um conhecimento
precoce de pesca e barcos. Conhece as melhores baías para pescar e, quando foi
posto pela primeira vez num barco, pareceu já saber como manejar as redes.
Mostra ter um medo da água maior do que o comum nos outros meninos de sua idade,
e é mais sério e sensato que eles.
O segundo tipo de observações feitas
com William George Jr. consiste num comportamento que indica uma identificação
quase completa do menino com o avô. Por exemplo, refere-se à sua tia-avó como
"irmã", sendo este de facto o parentesco dela com William George Sénior. Do
mesmo modo, refere-se aos tios e tias (irmãos e irmãs de Reginald George) como
se fossem seus filhos e filhas.
Além disso, demonstra uma preocupação
coerente com o comportamento deles, por exemplo, com o excessivo consumo de
álcool de dois de seus "filhos" (tios).
Os irmãos e irmãs de William
George Jr., participam de sua personificação e, muitas vezes, o chamam de "avô",
ao que ele não se opõe. A identificação de William George Jr. com o avô tem
diminuido um pouco, nos últimos anos.
O seu pai achou que William Jr.
estava a preocupar-se demasiadamente com o passado. Notou que a mente dele
"divagava". Por esse motivo e devido as divergências dos "mais velhos" quanto ao
perigo de recordar vidas passadas, os pais de William Jr. dissuadiram-no de
falar na vida de William Sr.
Em terceiro lugar, William George Jr.
demonstrou ter um conhecimento das pessoas e lugares que, na opinião da família,
transcende o que ele poderia ter aprendido através dos meios normais.
Fiz uma lista desses factos na tabela apresentada adiante, mas
descreverei primeiro e com mais detalhe, o item mais importante.
Quando
William George Jr. tinha entre quatro e cinco anos, a mãe um dia resolveu dar
uma olhadela nas jóias de seu porta-jóias, e espalhou-as no seu quarto. Tirou
também da caixa o relógio de ouro de William George Sr. Enquanto ela examinava o
conteúdo, William George Jr., que estivera a brincar numa outra divisão entrou
no quarto.
Reparando no relógio, pegou-o e disse: "É o meu relógio."
Agarrou-se a ele firmemente, repetindo que era dele, e a mãe, por muito tempo,
não conseguiu persuadi-lo a devolvê-lo. Por fim consentiu em que fosse reposto
na caixa.
Desde então, e até à presente data, William George Jr. de vez
em quando pergunta aos pais pelo "seu relógio". Na verdade, como ficou mais
velho, reclama o relógio com mais firmeza, dizendo que deve ficar com ele, agora
que estava a crescer.
Tanto o Sr. como a Sra. Reginald George afirmam que
o relógio de ouro tinha ficado no porta-jóias desde a ocasião em que a Sra.
George lá o depusera, em julho de 1949, até o dia em que, cinco anos mais tarde,
ela o retirara de lá ao examinar as suas jóias.
Eles têm igualmente a
certeza de que nunca falaram no relógio com William George Jr., ou na sua
presença. Lembram-se de ter contado a algumas pessoas da família que William
George Sr. Ihes tinha dado o relógio antes da sua morte. (Uma delas, o Sr.
Walter Mays, testemunhou isto).
Têm a convicção, contudo, de que nenhuma
daquelas pessoas poderia ter falado do relógio a William Jr. A sua certeza sobre
esses factos fez com que os pais de William Jr. ficassem muito mais
impressionados com o reconhecimento do relógio do que com a existência dos
sinais de nascença na mesma localização dos de William George Sr. Em sua
opinião, também, o reconhecimento do relógio ocorrera acidentalmente.
A
Sra. Reginald George não tinha intenção de mostrá-lo ao menino. Simplesmente
aconteceu que ele irrompeu pelo quarto quando ela o tinha tirado do porta-jóias,
e ele percebeu-o sem a menor insinuação dela.
William George Jr. perdeu,
actualmente e em grande parte, a sua antiga identificação com o avô, e, a não
ser o facto de reclamar ocasionalmente "seu relógio" e uns restos de gagueira,
ele age como um menino normal de sua idade.
Conversei com ele no Alasca,
e esperei que tivesse algo mais a dizer sobre o relógio, que a sua mãe mostrou
na minha presença. Ele segurou-o com amor, mas nada falou a seu respeito. Não
sei se essa reserva se originou do acanhamento por minha causa. ou por um
desvanecimento das imagens que originalmente o levaram a reclamar o relógio como
seu.
Declarações feitas pelas Testemunhas do Caso. Apresento agora, em
forma de tabela uma lista das várias declarações e de outras atitudes de William
George Jr.
Os três principais informadores foram o Sr. e a Sra. Reginald
George e o Sr. Walter Mays, primo de Reginald George e sobrinho de William
George Sr. O Sr. Mays fora companheiro inseparável de viagens de pesca, e de
outras ocasiões, de William George Sr.
Surgiram circunstâncias que me
tornaram possível entrevistar as três testemunhas separadamente: a Sra. George,
no Alasca, e o Sr. George e Sr. Mays em Seattle.
Os leitores que tomam a
sério a hipótese da reencarnação, poderão desejar saber qual a atitude do Sr. e
da Sra. Reginald George quanto ao desejo expresso por William George Sr. de
retornar como filho deles.
A Sra. George disse que não teve nenhum forte
desejo consciente de que o sogro voltasse como filho dela. Contudo, pela
expressão de alegria em sua face, ao contar a história, julgo que ela se sentiu
lisonjeada por seu sogro a haver escolhido, dentre várias outras mulheres na
família, para ser a sua próxima mãe.
A escolha aparentemente foi
motivada, pelo menos em parte, pela afeição que lhe tinha, por seus próprios
predicados e não pelo facto de ela ser a esposa de seu filho predileto. O Sr.
Reginald George era efetivamente o filho favorito, já que os outros se mostraram
desinteressados ou indiferentes pelo bem-estar do pai.
Reginald George
retribuia a afeição do seu pai. Ele realmente desejava que este retornasse como
seu filho, e ficou na expectativa de que cumprisse o seu
intento.
Comentários sobre Hipóteses Alternativas.
Como no caso
anterior, as duas principais hipóteses para explicar este caso são a
reencarnação ou uma identificação assumida ou imposta, com o avô.
E
também, como no caso precedente, a ocorrência das duas personalidades na mesma
família torna muito mais provável a transferência de informação sobre a
personalidade falecida ao menino, por meios normais, do que quando as duas
personalidades aparecem em duas famílias inteiramente desconhecidas uma da
outra.
O desgosto dos pais pela morte súbita e misteriosa do velho
pescador pode muito bem ter influenciado as suas esperanças e a convicção de que
ele retornara.
A crença comum entre os Tlingits, na reencarnação, e a
intenção expressa pelo capitão de retornar a eles, poderia certamente ter
contribuído para que acreditassem que ele voltara como seu filho. De acordo com
essa interpretação, o sonho da Sra. Reginald George durante o parto satisfaz de
modo patente o seu desejo de que o sogro retornasse, senão por ela, então para
alegrar o marido.
Depois, após o nascimento da criança, os pais
poderiam, talvez inconscientemente, ter Ihe imposto a identificação com o avô, a
qual eles declararam que ele apresentava.
Mas uma dificuldade ainda maior
do que as mencionadas relativamente ao caso precedente, surge de uma certa
necessidade em explicar a ocorrência dos sinais de nascença em lugares
idênticos, o andar anormal que tinha o menino e o reconhecimento do relógio de
bolso, de ouro, que o avô havia dado ao seu pai.
O Reconhecimento do
Relógio.
O reconhecimento do relógio de ouro pode talvez ser resolvido,
pela suposição de que os George se lhe tivessem referido anteriormente (embora o
neguem) ao treinarem a criança para assumir a identidade do avô.
Não
podemos afirmar que isto não possa ter acontecido. Um ponto mais importante
talvez é saber se tal referência ao relógio, ou mesmo várias referências, teriam
sido suficientes para possibilitar ao menino identificá-lo quando o viu.
O reconhecimento do relógio de ouro por William George Jr. não era tão
difícil de ser feito, talvez, como os testes de reconhecimento por que passou o
Dalai Lama (décima quarta encarnação) que reconheceu, com sucesso, o rosário, o
tambor e o bordão da décima terceira encarnação, quando estes objectos lhe foram
apresentados, juntamente com outros objectos semelhantes, que haviam pertencido
ao último Dalai Lama (36).
Contudo, mesmo em testes de reconhecimento
desta espécie, pode haver alguma orientação oculta, já que estão presentes
espectadores que conhecem o objecto a ser reconhecido e com expectativas
relativamente ao reconhecimento.
Se pudermos crer no relato da Sra.
George sobre o que aconteceu no presente caso, o reconhecimento do relógio de
ouro da avô, feito por seu filho, foi inteiramente espontâneo e não planejado
por ela.
Seja o que for que pensemos sobre a possibilidade de o menino
ter ouvido falar no relógio antes, ninguém o convidara a reconhecer o relógio,
ou esperou que ele o fizesse. Ele casualmente viu-o e imediatamente o
identificou.
Este facto diminui a probabilidade de que as insinuações da
sua mãe influenciaram o reconhecimento.
Mesmo quando nos sentimos seguros
para excluir influências sensoriais ocultas que levassem a tais reconhecimentos,
permanece a possibilidade de uma transmissão de informação, através de percepção
extra-sensorial por parte dos que conhecem a identidade do objecto (ou pessoa)
ao paciente, o qual, por meio de paramnésia poderia então falsamente
reconhecê-lo (ou a pessoa) como por efeto de sua própria memória.
(36) H.
Harrer. Seven Years in Tibet. (Trad. por R. Graves) New York: E. P. Dutton &
Co., 1954. Para uma exposição independente e corroborante (excepto quanto a
alguns detalhes discrepantes) dos testes propostos ao décimo-quarto Dalai Lama,
vide também B.J. Gould, The Jewel in the Lotus. Londres: Chatto e Windus,
1957.
SUMÁRIO DAS DECLARAÇÕES FEITAS POR TESTEMUNHAS NO CASO DE
WILLIAM GEORGE JR.
Declarações da Sra. Reginald George Declarações do Sr.
Reginald George Declarações do Sr Walter Mays Comentários
1. William
George Sr. Dizia repetidamente que ia retornar como seu filho.
2.
William George tinha sinais salientes na parte superior do ombro esquerdo e no
antebraço esquerdo, abaixo do cotovelo. Sinais de cerca de meia polegada de
diâmetro. Não se lembra se os sinais eram altos.
3.William George Sr.
Dissera que quando retornasse reconhecê-lo-iam pelos seus
sinais.
4.No verão de 1949, o seu marido dera-lhe
um relógio de bolso de ouro, dizendo que o pai lho havia dado e que lhe dissera:
" Se esse negócio da reencarnação for verdadeiro, retornarei na sua família e
reclamarei este relógio. Cuide bem dêste relógio."
5. Ela pôs o
relógio numa caixa de joias, onde permaneceu, durante cinco anos, até ao dia em
que William Gorge Jr. o retirou de lá; ocasião em que o reconheceu e o reclamou
para si.
6.Durante o parto, no nascimento de William George Jr., a Sra.
George teve um sonho, no qual lhe aparecera o sogro e lhe dissera que estava à
espera para ver o seu
filho.
7.
8.William
George Sr. havia machcado a perna quando jovem e William George Jr. andava com o
pé direito virado para fora, de maneira semelhante à do
avô.
9.
10.
Um dia, quando Reginald George ia a sair no seu baro para ir pescar, o seu filho
aconselhou-o a pescar numa determinada baía, cujo nome ele disse.
William
George Jr. Acrescentouentão que ele próprio, havia, certa vez apanhado uma
enorme quantidade de peixe naquela baía. Isto foi um facto na vida de William
George Sr.
Confirmado pelo Sr. George. O seu pai falou nisso alguns anos
antes de morrer.
O Sr. George só se lembrava do sinal no ombro esquerdo,
e disse que era alto. Tinha cerca de meia polegada de
diâmetro.
O Sr. George não se recordava de
ter o pai chamado a atenção para os sinais como um meio de o
reconhecerem.
No verão de 1949 William Geroge Sr. dera a Reginald
George um relógio de bolso, de ouro, dizendo: "Eu voltarei. Guarda este relógio
para mim. Vou ser teu filho. Se existe tal coisa, eu o
farei."
Confirmado pelo Sr. Reginlad
George.
O Sr. Reginlad
George sabia que a sua esposa sonhara, durante o parto, que o seu pai estava de
volta.
O
seu pai magoara o pé direito quando era moço. Isto ocasionou um defeito no
andar. William George Jr. tem o mesmo defeito, mas em grau
menor.
Quando William George Jr. Tinha mais ou menos quatro anos,
veio a correr da rua onde estivera a brincar, e disse entusiasma-damente que
tinha visto a sua "irmã" a passar. Os pais souberam então que a irmã de William
George Sr. tinha, de facto acabado de passar pela casa deles.
O Sr.
Reginald George lembrava-se de que o filho o aconselhou minuciosamente quanto à
pesca em determinada baía, e tinha razão em dar esse conselho.
Não se
lembrava de que o menino tivesse afirmado, na mesma ocasião, que fizera uma
pescaria especialmente importante naquela baía, na sua vida anterior. O Sr. Mays
ouviu William George Sr. Fazer tal declaração, certa vez, em 1949.
Desses
dois sinais, o Sr. Mays lembrava-se
claramente.
O
Sr. Mays não sabia dessa
declaração.
O Sr. Mays tinha
ouvido dizer que William George Sr. dera ao seu filho um relógio pelo qual ele
seria reconhecido após a
morte.
Quando
William George Jr. Viu o Sr. Mays, disse: "Eu costumava ir pescar com ele." Não
reconheceu o Sr. Mays pelo
nome.
Os
sinais em William George Jr. (examinados por mim em 1961) encontram-se nos
lugares mencionados. Têm cerca de meia polegada de diâmetro. Não são
salientes.
Se William
George Sr. o comunicou ou não, a outras pessoas, além da sua nora, a sua crença
de que seria reconhecido pelos sinais, facto de William George Jr. ter sinais
nos mesmos lugares que o seu avô, foi o principal factor a influenciar os pais a
darem-lhe o mesmo nome do avô.
O Sr. George disse que o seu pai lhe dera
o relógio "uma ou duas semanas" antes de morrer. A Sra. George recordava-se do
espaço de tempo como sendo de vários
meses.
O
Sr. Reginald George não estava presente por ocasião do reconhecimento do
relógio. A Sra. George estava sózinha com o filho. O Sr. George prestou
depoimento baseado na observação directa da atitude de posse, por parte do
filho, relativamente ao relógio em questão.
Não sei se a Sra.
George contou a alguém o seu sonho, antes do nascimento da criança, mas acho
pouco provável, porque ela foi anestesiada para o parto, pouco depois de ter o
sonho. Ao acordar da anestesia, após o parto, a Sra. George estava assustada,
porque esperava lá ver o seu sogro.
Bastante exacto quanto ao facto
de William George Sr. e o Sr. Mays frequentemente pescarem
juntos.
Em William George Jr. existe a
anormalidade no andar, mas não é
acentuada,
O Sr.
Reginald George achava que William George Jr. Tinha visto a sua tia-avó antes. O
ponto importante é, pois, a sua referência a ela como "irmã" (em vez de tia-avó)
e a sua animação ao vê-la. Tal entusiasmo não seria adequado, ao ver uma tia-avó
a quem o menino talvez tivesse visto apenas uma ou duas vezes na vida
actual.
William
George Sr. era um esplêndido pescador e uma das suas características era o
conhecimento pormenorizado dos melhores locais de pesca, mas isto era
supreendente num menino que mal tinha começado a entrar num
barco.
A Herança dos Sinais (Naevi). A indicação dos sinais,
por parte do falecido avô como um indício da sua identidade quando retornasse, e
a sua aceitação pelo filho e pela nora, ocorreram sem se levar em conta a
possibilidade da herança de sinais.
Este assunto ocupou a atenção de
inúmeros dermatologistas e geneticistas, principalmente na Europa. Várias
investigações realizadas na década de 20 estabeleceram o facto de que a
tendência para maior ou menor número de sinais é indubitavelmente
hereditária.
Mais pesquisas posteriores mostraram que tanto a localização
como o número de sinais podem ser herdados. Infelizmente, apenas em poucos casos
foi realizado um estudo minucioso com respeito à presença ou ausência de um
sinal, no mesmo lugar, em diferentes membros de uma família, durante três ou
mais gerações.
Consegui achar, ao todo, apenas doze desses "pedigrees"
publicados ou citados na literatura sobre o assunto, na Europa e nos Estados
Unidos (37, 38, 39, 40,41).
Para o presente caso, a questão mais
relevante sobre a herança de sinais é se a tendência para herdar um sinal (num
local particular) pode ser transmitida por um dos pais que, em si mesmo, não
apresenta o sinal em sua pele.
Em termos genéticos, é a herança
totalmente dominante, ou sua incidência é por vezes diminuta.
Pelo estudo dos doze "pedigrees"
podemos concluir que a herança é, em geral totalmente dominante, registando-se,
porém, excepções.
Em duas das doze famílias estudadas, um avô e um ou
mais dos seus netos tinham um sinal ou sinais exactamente nos mesmos lugares,
mas os parentes da geração intermédia não os tinham, embora esses pais actuassem
como transportadores da tendência para o sinal no neto (42, 43).
A
ocorrência desses raros casos excepcionais na herança de sinais torna impossível
atribuir com segurança o fenómeno do aparecimento dos sinais em William George
Jr à reencarnação, mas podemos encará-los como constituindo uma
evidência.
(37) AH. Estabrook, Eugenical News, vol 13. 1928. 90-92
(38) S.J. Denaro."The Inheritance of Nevi." Journal of Heredity. Vol.
35. 1944, 215-218
(39) E.A. Cockayne, Inherited Abnormalities of the
Skin. Londres: Oxford University Press. 1933
(40) C.A. Maruri. "La
Herencia de los Lunares". Actas Dermo-Sifilográficas, Vol. 40. 1949,
518-525.
(41) C.A. Maruri. "La Herencia en Dermatologia. Santander:
Aldus, SA. Artes Gráficas. 1961.
(42) L. Leven. Erblichkeit der Naevi.
Deutsche Med. Wochenschr., vol. 55, 1929, 1544.
(43) A. Brauer.
Hereditarer symmetrischer systematisierter Naevus aplasticus bei 38 Personen
Dermat. Wochenschr., Vol. 89. 1163-1168.
Seria um erro pôr de lado esta
questão, como se a Genética pudesse sozinha, no actual momento, elucidar sobre
todos os aspectos.
A Genética pode apenas indicar a probabilidade de
herança dos sinais por gerações ulteriores. Não contribui para a nossa
compreensão, neste caso, do facto de somente William George Jr., dentre os dez
filhos da família, ter sinais nos mesmos lugares dos de seu avô (44).
A
reencarnação, da qual não há outra evidência particularmente acentuada neste
caso, oferece realmente uma explicação para isso. Como já o dissemos, a Genética
ajuda a compreender as semeIhanças entre membros da mesma família; a
reencarnação é uma teoria que pode explicar algumas das diferenças entre membros
da mesma família.
A Herança de uma Anormalidade no Andar. Como já foi
dito, William George Sr. machucou o tornozelo direito, ficando coxo quando ainda
bem jovem. William George Jr. tem um andar idêntico, com uma tendência, embora
mais leve, de atirar o pé direito para fora, quando anda.
Os pais de
William George Jr., independente e espontaneamente, comentaram comigo o coxear
do filho e a sua semelhança com o andar defeituoso do avô.
Aqui trata-se
de um caso de herança de uma característica adquirida, algo considerado
extremamente improvável por todos os geneticistas e como quase impossível pela
maioria.
Como seria difícil incluir um específico andar anormal entre os
traços impostos a uma criança pelos pais, a hipótese de identificação imposta
explica menos adequadamente este aspecto do que os outros aspectos, tais como a
atitude paternal do menino para com os tios.
Creio que a reencarnação
explica mais satisfatoriamente a ocorrência desse coxear, do que outras teorias,
se acreditarmos que o andar de William George Jr. se assemelha particularmente
ao coxear adquirido pelo avô.
(44) A bem da rigorosa exactidão, devo
dizer que não examinei pessoalmente os membros da família George, a não ser
William Jr., no que diz respeito à ocorrência ou ausência de sinais nos mesmos
lugares do corpo.
Esta omissão foi devida primeiramente à minha
ignorância quanto à genética dos sinais, por ocasião de minha primeira visita ao
Alasca. Por ocasião da minha segunda visita, não consegui persuadir a família a
cooperar em tal exame.
Contudo, pela importância que os pais de William
George Jr. atribuiram aos sinais, inclusive dando-Ihe o nome do avô, e com base
neles, acho seguro presumir que os encaravam como um índicio caracteristico da
volta do avô, o que não teriam feito, se quaisquer outros membros da família
tivessem sinais nos mesmos lugares.
Prof. Ian
Stevenson
Ian Stevenson
Dados biográficos
Ian
Stevenson é natural do Canadá, Montreal. Iniciou os estudos universitários na
Universidade de Santo André, na Escócia. Conclui a licenciatura na Universidade
de McGill, em Montreal. Foi-lhe atribuida a medalha de ouro “Holmes”, destinada
aos alunos com as mais altas classificações eme todas as disciplinas
curriculares.
O Prof. Stevenson estagiou em medicina interna e
psicossomática no Royal Victoria Hospital, em Montreal, na Alton Ochner Mecial
Foundation, Tulane University, em Nova Orleães e no cornell University Medical
College. Em Nova Iorque.
Leccionou durante oito anos na Escola Médica do
Estado da Louisiana, antes de ser admitido, como Professor Catedrático, no
Departamento de Psiquatria da Universidade da Virgínia,
(E.U.A)
Dedicou-se à investigação na área da medicina psicossomática
(efeitos psicológicos e bioquímicos das drogas alucinogéneas e á entrevista
psiquiátrica). Dirige, nos últimos anos, umprojecto de investigação sobre
fenómenos paranormais, com destaque para a hipótese de sobrevivência da
consciência após a morte.
É autor de onze livros, autor ou co-autor de
mais de 240 artigos e capítulos dispersos por várias obras
científicas.
Bibliografia Sumária
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- Fonte: Revista
"Rosacruz", Fraternidade Rosacruz de Portugal
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