CARTA Nº 27
Fevereiro de 1913
SIEGFRIED, O QUE BUSCA A VERDADE
Da mesma forma que damos aos nossos filhos livros ilustrados que contêm lições morais que não podem compreender intelectualmente, assim também os Guias Divinos da humanidade infante usaram mitos para ensinar as grandes verdades espirituais que germinaram durante eras inconscientemente em nós, mas que foram, sem dúvida, fatores poderosos em determinar a direção do progresso humano. Dificilmente entendemos que o mito de Fausto encerre o grande problema da Maçonaria e do Catolicismo e indique a sua solução final, mas veremos em futuras lições que isto é verdade. No momento, vou referir-me ao grande épico nórdico. O Anel dos Niebelungos, para demonstrar como a grande verdade - quem busca a verdade deve "abandonar pai e mãe", como fizeram Jesus e Hiram Abiff - foi ensinada aos Filhos da Névoa (Niebel é nevo e Ungen é filhos) que viverarm na nebulosa atmosfera da Atlântida. Mais tarde, considerarei esta lenda mais apuradamente.
Wotan é o chefe dos deuses, que estão sempre em guerra com os gigantes. Eles construíram uma fortaleza chamada Valhal para onde as Valquírias, filhas de Wotan, levavam os fiéis que tinham caído nos campos de batalha defendendo a fé. A verdade perdeu o seu aspecto universal quando os seus guardiães a enclausuraram e a limitaram. Mas Wotan tinha outros filhos, que amavam tão ardentemente a verdade, que fugiram de Valhal para serem livres. Eles estavam armados com uma espada chamada "filha da aflição" (representando a coragem do desespero), com a qual o rebelde se escuda contra credos e dogmas, atira ao vento o convencionalismo e sai em busca da verdade. Wotan envia seus pupilos atrás dos fugitivos e convida Brunilda, a Valquíria que representa o Espírito da Verdade, para que os ajude a matá-los. Ela recusa, e Wotan, que se tinha tornado invisível, investe com sua espada contra o seu valente filho Siegmund, que foi morto em lua desigual.
A Igreja dominante não vê com complacência a divisão de seus filhos. Até prostituiu o Espírito da Verdade para que sua vontade fosse cumprida e, quando fracassou, empregou meios sutis para atingir os seus objetivos. Suas intenções eram boas, mas degeneraram. Quando Wotan colocou Brunilda, que estava em pranto diante dele, para dormir sobre uma rocha rodeada de fogo, disse-lhe que ela não despertaria até que aparecesse alguém mais livre do que ele. A verdade não pode ser encontrada numa religião cuja doutrina seja dogmática e inflexível; quem a procura deve estar livre de compromissos de fidelidade com qualquer outra.
Assim é Siegfried (que significa aquele que através da vitória alcança a paz), o filho do assassinado Siegmund e de sua esposa-irmã Sieglinda. Esta morreu ao dar-lhe à luz. Por isso, está livre de pai, de mãe e de todos os laços terrenos, pois o seu único bem herdado é uma espada partida, a filha da aflição. Criado entre os Niebelungos (a humanidade comum), ele pressente sua divindade e irrita-se com as limitações de seu ambiente. Seu pai adotivo, Mime, é um hábil ferreiro, mas todas as espadas que forjou foram destroçadas ao primeiro golpe do jovem gigante. Por muitas vezes tentou forjar a espada filha da aflição, mas fracassou, pois nenhum covarde pode fazer tal coisa. Enquanto temermos a Igreja, a opinião pública ou qualquer outra coisa, não nos podemos libertar.
A coragem do desespero vence o medo, e Siegfried, finalmente, forja a espada com a qual mata Fafner, o dragão do desejo que se estende sobre os tesouros da Terra, e Mime, seu pai de criação, a natureza inferior. Então, sente-se absolutamente livre. Um pássaro, a voz da intuição, fala-lhe de Brunilda, o belíssimo Espírito da Verdade, que pode ser despertado por alguém destemido e livre. Siegfried segue o pássaro da intuição para essa conquista, mas Wotan, seu antepassado, procura detê-lo com sua lança, que representa a força do dogma, sob a qual a espada que Siegfried leva em sua mão, uma vez partiu-se. Esta espada é mais forte desde que Siegfried a forjou, e a lança de Wotan é mais fraca desde o primeiro golpe, pois o dogma sempre enfraquece quando combatido. Siegfried, aquele que é livre e destemido, quebra a lança de Wotan e, prosseguindo o seu caminho através do fogo até a rocha da Valquíria, envolve o belíssimo Espírito da Verdade num amoroso abraço e desperta-o com um beijo.
Desta forma, o mito antigo diz ao que busca a verdade, o que é necessário fazer para encontrá-la. Devemos deixar pai e mãe, os credos, os dogmas, os convencionalismos, as opiniões preconcebidas, despirmo-nos dos desejos mundanos, nunca recear os conflitos com as autoridades estabelecidas, mas seguir a voz interna através do fogo, então, poderemos encontrar a verdade.
Por isso, os Rosacruzes insistem para que todos os que vêm a eles à procura de profundos ensinamentos, devem estar livres de compromissos com outra escola, e não devem sentir-se manietados por qualquer juramento. A promessa que fizerem, eles a farão a si mesmos, porque a liberdade é o que a alma possui de mais precioso, e não há maior crime do que escravizar, seja de que forma for, um ser humano. Possamos permanecer fiéis nesta herança sublime e resistir valentemente a qualquer fato que nos prive deste direito sagrado.