Os Versos de
Ouro de Pitágoras
por
António Monteiro
Pitágoras de Samos (do grego Πυθαγόρας) foi um filósofo e matemático grego que nasceu em Samos entre cerca do ano 570 a.C. e 571 a.C. e morreu em Metaponto entre cerca do ano 496 a. C.
ou 497 a.C. A sua biografia está envolta em lendas. Diz-se que o nome significa altar
da Pítia
ou o que foi anunciado pela Pítia, pois mãe ao consultar a pitonisa soube que a
criança seria um ser extraordináriol. Pitágoras foi o fundador de uma escola de pensamento grega denominada em sua
homenagem de pitagórica.
Os Versos de
Ouro, tradicionalmente atribuídos a Pitágoras (c. 580 a.C - 500 a.C), constituem
um documento de valor inestimável e que, apesar de escritos há cerca de 2.500
anos, mantêm total actualidade.
Não
se sabe, ao certo, quem foi o seu autor, mas é Lísis[1] quem parece reunir maior consenso entre os
estudiosos. A cópia mais antiga que chegou até nós é de Hierocles de
Alexandria[2], da qual foram
feitas diversas traduções para línguas modernas, as quais, no entanto,
apresentam algumas diferenças.
Preparação
- Primeiro, adora
os Deuses Imortais, como eles estabeleceram e ordenaram na Lei.
- Reverencia o
Juramento, e a seguir os Heróis, plenos de bondade e luz.
- Honra igualmente
os Demónios Terrestres prestando-lhes o culto que lhes é legalmente
devido.
Purificação
- Honra igualmente
os teus pais, e aqueles que te são mais próximos.
- De todo o resto
da humanidade, faz teu amigo aquele que se distinguir pela sua
virtude.
- Ouve sempre as
suas pacíficas exortações, e toma como exemplo as suas virtuosas e úteis
acções.
- Evita tanto
quanto possível odiar os teus amigos por faltas insignificantes.
- E compreende que
poder é um vizinho próximo da necessidade.
- Sabe que todas
estas coisas são como as disse a ti; e habitua-te a superar e a vencer estas
paixões:
- Primeiro a gula,
preguiça, luxúria e ira.
- Não faças nada de
mal, nem na presença de outros, nem em privado,
- Mas acima de
tudo, respeita-te a ti mesmo.
- A seguir, observa
a justiça nos teus actos e nas tuas palavras,
- E não te habitues
a comportares-te em todas as coisas sem regra e sem razão,
- Mas considera,
sempre, que é ordenado pelo destino que todos os homens morram,
- E que os bens da
sorte são incertos; e que como podem ser adquiridos, assim podem ser igualmente
perdidos.
- No que concerne a
todas as calamidades que os homens sofrem pela divina fortuna,
- Suporta, com
paciência, o teu fado, seja ele qual for, e nunca te lastimes,
- Mas esforça-te no
que puderes corrigir.
- E leva em
consideração que o destino não envia a maior porção destas desgraças aos homens
bons.
- Há entre os
homens muitas formas de raciocinar, boas e más;
- Não os admires
nem os rejeites com muita facilidade.
- Mas se forem
ditas falsidades, ouve-os com suavidade, e arma-te com paciência.
- Observa bem, em
todas as ocasiões, o que te vou dizer:
- Não deixes que
nenhum homem, seja por palavras, seja por actos, te seduza,
- Nem te seduzas tu
ao dizeres ou fazeres o que não for proveitoso para ti mesmo.
- Informa-te e
delibera antes de actuares, para que não cometas acções
disparatadas,
- Porque isso é
próprio de um homem miserável: o falar e actuar sem reflectir.
- Mas faz o que
mais tarde te não afligir nem te causar arrependimento.
- Nunca faças nada
que não compreendas.
- Mas aprende tudo
o que tens obrigação de conhecer, e assim levarás uma vida feliz.
- De nenhum modo
neglicencies a saúde do teu corpo;
- Mas dá-lhe bebida
e comida na justa medida, e exercita, também, o que de tal tiver
necessidade.
- Por medida quero
dizer o que te não incomoda.
- Habitua-te a um
estilo de vida simples e decente, sem ostentações.
- Evita tudo o que
suscitar inveja,
- E não sejas
perdulário sem motivo, como alguém que não sabe o que é decente e
honroso.
- Nunca sejas
cobiçoso nem avarento; a justa medida é excelente nestas coisas.
- Faz apenas aquilo
que não pode ferir-te e pondera cuidadosamente antes de o fazeres.
Perfeição
- Nunca permitas
que o sono feche os teus olhos, depois de teres ido para a cama,
- Até teres
examinado, com a tua razão, todas as tuas acções do dia:
- Em que é que eu
errei? O que é que eu fiz? O que é que eu não fiz e que devia ter
feito?
- Se neste exame
achares que fizeste mal, repreende-te severamente;
- E se fizeste algo
bom, regozija-te.
- Pratica
minuciosamente todas estas coisas; medita bem nelas; deves amá-las com todo o
teu coração;
- Elas irão pôr-te
no caminho da virtude divina.
- Eu o juro por
aquele que passou para as nossas almas a Tetraktis Sagrada, a fonte da natureza,
cuja causa é eterna.
- Mas nunca deites
mão a nenhuma obra antes de teres, em primeiro lugar, rogado aos deuses que
aperfeiçoem o que vais começar.
- Quando fizerdes
disto um hábito familiar,
- Conhecerá a
constituição dos Deuses Imortais e dos homens.
- Verás quão extensa é a diversidade dos seres e
aquilo que os contém e os mantém presos;
- Igualmente saberás que, de acordo com a Lei, a
natureza deste universo é semelhante em todas as coisas;
- Deste modo não
terás de esperar o que não deves esperar; e nada neste mundo te será
oculto.
- Igualmente
saberás que os homens lançam sobre si mesmos as suas próprias desgraças, voluntariamente, e por sua própria e livre
opção.
- Infelizes que
eles são! Nem vêem nem compreendem que o seu bem está junto deles.
- Poucos sabem como
se livrar das suas desgraças.
- Tal é o fado que
prende a humanidade, e lhe rouba a consciência.
- Como grandes
ondas, rolam de um lado para o outro e oprimem-se com males
inumeráveis.
- Pois uma luta
fatal, inata, persegue-os por toda a parte, sacudindo-os para cima e para baixo;
nem eles percebem isso.
- Em vez de
provocarem e excitarem isso, deviam evitar isso tornando-se úteis.
- Oh! Zeus, nosso
Pai! Se não libertares os homens de todos os males que os oprimem,
- Mostra-lhes de
que demónios se devem servir.
- Mas toma coragem;
a raça do homem é divina;
- A natureza
sagrada revelar-lhes-á os mais recônditos mistérios;
- Se ela te revelar
os seus segredos, facilmente realizarás todas as coisas que te
recomendei
- E pela cura da
tua alma, libertá-la-ás de todos os males, de todas as aflições.
- Mas abstém-te de
carnes que nós proibimos nas purificações e na libertação da alma;
- Faz uma distinção
justa das mesmas e examina bem todas as coisas.
- Deixando-te,
sempre, guiar e ser dirigido pela compreensão que vem do alto e que deve segurar
as rédeas,
- Quando, tendo-te
despojado do teu corpo mortal, chegares ao mais puro Éter,
- Serás um Deus
imortal, incorruptível e a Morte não mais terá domínio sobre ti.
UM
BREVE COMENTÁRIO
Versos 1 a 3 – É curioso notar a
hierarquização dos seres espirituais em deuses, heróis ou
semideuses, e demónios terrestres, e o facto de se situarem abaixo
do Deus Criador, a quem os Deuses Imortais prestaram um
Juramento que deve ser reverenciado, o de preservar todas as coisas nos
seus lugares, e manter a beleza e a harmonia do Universo. Os Demónios Terrestres
serão, em minha opinião, os
Egos de homens justos e bons que já alcançaram a libertação do ciclo de morte e
vida, ou estão prestes a alcançá-la, isto é, altos Iniciados. Recorde-se que
Sócrates dizia ter, como companheiro, o seu demónio.
Versos 40 a 44 – Trata-se, evidentemente, do exercício de
Retrospecção que Max Heindel nos transmitiu e que tanto
prezava.
Verso 47 – Este juramento é
feito perante o próprio Pitágoras, de onde a hipótese de Os Versos de
Ouro não terem sido escritos por
ele, mas por um dos seus discípulos.
A Tetraktis[3] é o número
quaternário, ou o 10 formado pela adição dos quatro primeiros números (1+2+3+4),
um dos conceitos fundamentais na doutrina pitagórica. O quatro simboliza
a terra, a totalidade do criado e do revelado, sendo a totalidade do criado
também a totalidade do perecível. Pitágoras dizia que a nossa alma é formada
pela tetraktis, ou seja a inteligência, a ciência, a opinião e a
sensação.
Verso 62 – Estes demónios
são os seus próprios Egos superiores, porque vê-los e conhece-los significa
estar livre de todos os
males.
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neste diretório são de inteira responsabilidade do autor .
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